Por Ricardo Hingel, economista
No mercado financeiro, utiliza-se um conceito ou ferramenta denominado cenário de estresse. Quando se faz qualquer projeção ou estudo de viabilidade de investimentos ou projetos, estes são compostos por um conjunto de variáveis que representam as hipóteses que, conjugadas, determinarão sua viabilidade e levarão a decisões. O resultado obtido estará assentado na ocorrência mais provável de cada variável, que formam os chamados cenários básicos. Como se trabalha, principalmente, com probabilidades e não certezas, as projeções estão sujeitas a riscos de execução. Em função das incertezas, aplicam-se, então, os denominados testes de estresse, que buscam aferir qual o efeito do risco assumido para o investimento e qual o plano de contingência disponível para compensar parte ou o todo do prejuízo ocorrido se tudo der errado.
Trazendo esse conceito para a questão ambiental, pelo desastre de Brumadinho e, anteriormente, pelo de Mariana, com prejuízos ambientais irreversíveis e que ceifam vidas humanas, verifica-se que não se aplicaram cenários de estresse, pois riscos possíveis acabaram sendo pouco considerados e os resultados comprovaram que erraram nas probabilidades. Os cenários de estresse dessas barragens deveriam levar em conta o risco real de seu rompimento e o que se verificou foi uma mensuração insuficiente. Os projetos de engenharia falharam e os planos de contingência para os potenciais desastres simplesmente inexistiam.
Um exemplo dos equívocos da incorreta mensuração dos riscos da barragem foi a informação constante do Relatório de Segurança de Barragens, produzido pela Agência Nacional de Águas (ANA), que classificou a de Brumadinho como de baixo risco de acidentes e com alto potencial de danos. A barragem pertencente à Vale era depositária de resíduos de mineração e, se não restou dúvida quanto a seu potencial de danos, sobraram certezas de que não era de baixo risco de acidentes, que não foi devidamente avaliado e, muito menos, preparados planos de contingência, fundamentais para empreendimentos desse porte.
A mensuração dos riscos ambientais deve ser preocupação preponderante para a preservação do planeta, onde as ameaças são desconsideradas, proliferam Marianas e Brumadinhos e age-se como se não houvesse amanhã. Apenas para uma reflexão, devemos lembrar que o habitáculo que permite a vida em nosso planeta é extremamente fino. De um diâmetro de menos de 13 mil quilômetros, 80% da massa atmosférica está contida em uma fina camada de até 11 quilômetros de altitude, o que dá uma boa medida da fragilidade da vida na Terra.