A acentuada queda nas ações da Vale do Rio Doce, depois da confirmação do número recorde de perdas humanas na tragédia de Brumadinho, é a reafirmação de que as preocupações relacionadas ao capital humano e as de ordem socioambiental têm cada vez mais relação direta com as decisões de investidores. Por mais que haja resistências em alguns meios, o fato concreto é que as chamadas barreiras não-tarifárias deixaram de ser uma questão meramente ideológica para assumir papel preponderante nas decisões de compra de grandes mercados mundiais. O Brasil precisa aprender com as tragédias e ficar atento a essas novas exigências dos mercados internacionais.
Grandes fundos da Noruega e da Suécia, por exemplo, já estudam a possibilidade de excluir papéis da maior empresa mineradora do Brasil de suas carteiras de ações. Cada vez mais a economia globalizada cobra exigências éticas em toda a cadeia produtiva de bens e serviços. As restrições não se limitam à atividade de mineração, criticada em alguns meios sob a alegação de práticas predatórias e da opção por modelos ultrapassados de barragens. Uma outra área na qual essas restrições já ocorrem, sob a alegação de que os produtos não são certificados ou têm origem em áreas de desmatamento, é a área de alimentos, principalmente a de carne e soja.
Felizmente, o presidente Jair Bolsonaro, que se elegeu prometendo rever eventuais excessos de ordem ambiental, vem suavizando seu discurso de campanha nessa área. Em Davos, onde participou do Fórum Econômico Mundial, admitiu a empresários a possibilidade de o Brasil seguir no Acordo de Paris sobre o Clima, um tratado no âmbito das Nações Unidas sobre o clima, o que é promissor.
No passado, diante da pressão de importadores, o país já conseguiu enfrentar deformações como as relacionadas ao trabalho infantil e escravo. A mais recente catástrofe em Minas Gerais precisa levar a uma reavaliação do discurso e da prática dos responsáveis por organismos da área ambiental em direção ao crescimento sustentável, no qual aspectos socioeconômicos e ambientais se mostrem indissociáveis, de forma equilibrada e responsável.
As maiores perdas nos casos de Mariana e Brumadinho são as humanas, mas as tragédias têm repercussões devastadoras não só para a mineração como é feita hoje e a própria Vale, mas para o próprio país. O Brasil não pode se conformar em ter sua imagem associada à impunidade e ao descaso com os seres humanos e os recursos naturais.