Por Oscar André Frank Júnior, Economista
"Alea jacta est." "A sorte foi lançada", disse Júlio César ao cruzar o Rio Rubicão e dar início à guerra civil romana contra Pompeu. "Sorte", aqui, no sentido de destino, de porvir. Deriva de "alea", que é raiz também para "aleatoriedade", sinônimo de "acaso". E de "sorte", raiz de "sorteio".
O acaso é um subproduto da complexidade da natureza em suas diversas formas. Em um conflito bélico, é impossível mapear todas as variáveis com o intuito de atribuir probabilidades de vitória para cada um dos lados. Para certas situações específicas, no entanto, existem técnicas matemáticas que permitem definir com precisão a expectativa para a ocorrência de determinados eventos. É o caso do "tamanho da sorte" de que se necessita para vencer a Mega da Virada.
Em média, aqueles que realizam uma aposta mínima precisam jogar 50.063.860 vezes para obter o prêmio máximo. No caso da quina e da quadra, necessita-se de 154.518 e 2.332 jogos, respectivamente. Ou seja, é muito pouco provável que se ganhe nesse sorteio. Mas, por que, então, tantos brasileiros lançam sua sorte nesse jogo? Além de simplesmente desconhecerem os números supracitados, acredito que a resposta passa pelo baixo valor de entrada necessário para participar dessa loteria.
Por trás de cada combinação de seis ou mais dezenas, existe o desejo genuíno de cada brasileiro de realizar seus mais variados sonhos. Assim, milhões de pessoas se sacrificam e encaram horas e horas de filas. Investem um tempo valioso e recursos muitas vezes indispensáveis em algo cuja probabilidade de êxito é infinitesimal.
A Mega da Virada e toda sorte de apostas não podem funcionar como pretextos para transmutar nossas esperanças de uma vida melhor em acasos e aleatoriedades. Que em 2019 saibamos fazer uso de nossa força interior não em sacrifícios inócuos, mas para incorporar às nossas rotinas a aquisição de mais conhecimento, contribuindo para a transformação efetiva do meio em que estamos inseridos.