Por Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre
O início de um novo ano é motivo de alegria e expectativas. Novo significa inusitado, desconhecido, não ainda experimentado, algo a respeito do qual não se pode oferecer resposta segundo esquemas predeterminados.
A partir da compreensão da fé, na confiança de que Deus nos sustenta, acompanha e inspira, nos abrimos a um novo tempo que irrompe diante de nós, desejando que encontremos paz e prosperidade. Deus nos encoraja a sonhar.
Inauguramos o ano de 2019 desejando felicidades porque trazemos em nós, como promessa, a esperança do novo. Eu sonho que o Brasil supere os altos índices de miséria, ofereça à população condições dignas de vida, promova a justa distribuição da renda, conceda aos jovens formação e estudo de qualidade, ofereça a todos oportunidades de trabalho, cuide dos idosos, construa um projeto de nação que corresponda aos anseios, sobretudo, dos mais pobres e preserve os autênticos valores democráticos.
Eu sonho pela construção de uma agenda de futuro marcada pela inovação, capaz de promover e efetivar a superação de estruturas ultrapassadas, viciadas, ineficientes e corruptas. Isso exige ética, ousadia e determinação.
Eu sonho com o cultivo de atitudes novas e nobres, evitando toda forma de exploração e domínio. O ano vindouro será verdadeiramente novo se formos capazes de descobrir meios para promover e cuidar da vida nas suas diversas formas de manifestação, compreender que um índice maior de civilidade depende do grau de engajamento e disposição comum gratuita para favorecer o bem comum, perceber que precisamos de mais poesia nas relações interpessoais e com o meio ambiente, resgatar aquela força originária (dynamis) que permite a poetas, artistas, pensadores e místicos contemplar tudo a partir do êxtase.
Eu sonho com uma sociedade que cresça em civilidade, adorando mais profundamente, venerando com maior intensidade, respeitando as diferenças, sendo mais sensíveis, gratos e devotos. Somos assim provocados a, durante o próximo ano, cultivar com mais determinação nossa condição humana, marcada por fragilidade, sensibilidade, ousadia e devoção, e a promover a construção de pontes capazes de aproximar culturas e povos. Se no horizonte do cenário mundial despontam sinais de preocupação à causa da prepotência de alguns poucos, na aurora do novo ano desponta para os filhos desta "Pátria amada" um lume de esperança. Esperança de justiça social, paz e fraternidade.
Os cristãos, filhos e filhas desta "terra adorada", especialmente os jovens, têm a missão de colaborar na construção de dias melhores para as futuras gerações comprometendo-se com a ética, promovendo o cuidado pela casa comum e responsabilizando-se pela coisa pública.
O resgate da esperança é fundamental para que o Brasil possa avançar. Por isso, eu sonho. Sonho com um tempo novo em que a esperança não nos seja roubada.