Por Thiago Pirajira, mestrando em Educação PPGEdu/UFRGS, integrante do Bloco da Laje, diretor artístico do Grupo Pretagô
É também no trato com a cultura que o Brasil se revela um país extremamente racista.
Podemos ver, ao longo de toda a história do Brasil, que as populações negras e pobres, seus saberes e culturas sofrem sistematicamente processos de silenciamento e apagamento. Importantes intelectuais como Abdias do Nascimento e Sueli Carneiro nos apontam essas afirmações a partir de conceitos como genocídio e epistemicídio. Ao mesmo tempo, em sua genética de luta e resistência, negras e negros se reinventam e reexistem por sob políticas mortíferas.
Em 2018 Porto Alegre mantém tais políticas em relação aos carnavais de rua e de escolas de samba: a iminência do não acontecimento. Na festa da rua, que acontece no bairro Cidade Baixa, a histórica região boêmia e carnavalesca da capital recebe uma liminar da justiça que proíbe a realização do carnaval em 2019. No âmbito das escolas, que não conseguiram realizar a competição em 2018, essas rumam para um futuro incerto no próximo ano. Dinâmicas diferentes com um mesmo caminho: o silenciamento. Importante pensar que existem diversos fatores que ocasionam tal situação, porém é impossível furtar-se de perceber que no grande jogo estrutural-racista em que vivemos, a festa do povo negro, onde os afetos se ampliam, as noções de convívio e fortalecimento se fundam e as identidades se potencializam, está mais uma vez sendo desarticulada em um jogo político que tem interesses em silenciar, coibir. Um jogo que se repete ao longo da história tendo a criminalização e o sucateamento como justificativa para o impedimento das expressões de sujeitos subalternizados. Um efeito da atualizada estrutura colonial em que vivemos.
Carnaval, seja na avenida, nas ruas, praças e comunidades, expressa e articula os saberes negros. Nesse momento de "ninguém solta a mão de ninguém", se torna importante fortalecer escolas e blocos que mantém viva e pulsante a expressão de nossa cultura.