Por Carlos Guilherme Maciel Regus, mestre em Educação
A atividade de Inteligência é um dos mais poderosos coadjuvantes do processo decisório nacional, que visa identificar possíveis ameaças à segurança e de orientar o preparo e o emprego do Poder Nacional nas atitudes necessárias à defesa.
Apesar de sua reconhecida importância, essa atividade ainda é incompreendida por grande parte da sociedade. Cercada por uma atmosfera de sigilo, estigmatizada como antidemocrática ou associada a práticas ilegais, a Inteligência carrega consigo uma imagem negativa, colocando-se sempre em atitude defensiva, o que prejudica o debate imparcial sobre os seus objetivos e a sua utilização como instrumento fundamental para as políticas de Estado.
O conceito anglo-saxônico de que vivemos em um mundo "VUCA" (volatile, uncertain, complex and ambiguous), além de globalizado, é sinalização clara da necessidade de se ter um serviço de Inteligência estruturado, sistêmico, integrado, proativo e competente.
Assim, para que a Inteligência de Estado atue de forma eficaz, torna-se determinante possuir capacidade analítica, a fim de prestar o devido assessoramento, para mitigar os riscos e as ameaças identificadas. Quanto mais completo o diagnóstico inicial, mais eficaz e oportuna poderá ser a tomada de decisão.
Nesse escopo é que surge o conceito de gerenciamento de risco, nome dado à atividade contínua, formal, metódica e proativa, que busca reduzir os danos provocados por ameaças, avaliadas previamente. Cabe, ao leitor, então, questionar: Quais são essas ameaças?
Os cenários nacional e internacional, nos dias de hoje, caracterizam-se por ameaças assimétricas, marcadas pela incerteza e volatilidade, onde agentes não estatais provocam essa percepção de insegurança por nós vivenciada.
A realidade mostra diversificadas matizes de temas que dominam a agenda dos serviços de Inteligência no mundo, sendo protagonista, nas suas mais diferentes formas, o terrorismo. Podem ser listados o terror na sua concepção original, o ciberterrorismo, o agroterrorismo, o bioterrorismo, além da espionagem, da sabotagem, do crime organizado, da corrupção e de tantas outras ações possíveis de agredir a soberania, a integridade territorial, a coesão social, a lei e a ordem.
Nesse sentido, é imprescindível o trabalho de profissionais de inteligência capacitados, lotados em agências civis e militares, cabendo-lhes manter atualizado o chamado "quadro de referência", nome dado ao exercício constante da produção de conhecimentos. É o monitoramento diuturno desse quadro que permitirá ao analista identificar com tempestividade e pertinência o grau de risco existente.
Dentro desse contexto, vale destacar que a Política Nacional de Inteligência (2016) elenca como um de seus objetivos o de "conscientizar a sociedade para o permanente aprimoramento da atividade de Inteligência". Reconhecer, portanto, a importância dessa atividade altamente especializada, dentro dessa realidade "VUCA", é determinante para o correto entendimento da relevância da Inteligência para o adequado processo decisório.