Mesmo com algumas idas e vindas, naturais e inevitáveis em períodos de articulação por parte de gestores públicos, o processo de transição do atual para o próximo governo, em âmbito federal, tem transcorrido sem maiores sobressaltos. As desavenças eleitorais, acirradas pela polarização na disputa nacional, não se transferiram para a crucial transição de governos. Esse é um fato positivo para o país, que precisa definir logo e colocar em prática questões prioritárias para sair da crise.
O clima de civilidade e de abertura para o debate prevalece também na interação entre as equipes do atual e do futuro governo gaúcho, iniciada formalmente na última segunda-feira, com o primeiro encontro entre o governador atual, José Ivo Sartori (MDB), e o próximo, Eduardo Leite (PSDB). No Rio Grande do Sul, às voltas com sérios problemas de caixa, que tendem a se agravar se forem adiante as pressões por reajuste salarial de corporações influentes de servidores, a afinidade é decisiva para acenar com um mínimo de governabilidade para o próximo ocupante do Piratini.
Esse tipo de preocupação esteve presente também, ontem, na primeira reunião de trabalho entre o presidente da República, Michel Temer (MDB), e seu sucessor, Jair Bolsonaro (PSL). O governo federal enfrenta, igualmente, déficits constantes e pressões salariais das categorias de maiores ganhos.
É positivo, portanto, que o presidente eleito tenha reafirmado ontem o respeito às instituições, em visita ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. E, ao mesmo tempo, que tenha relativizado manifestação de seu futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a necessidade de dar uma "prensa" no Congresso para a aprovação da reforma da Previdência. Numa democracia, como a definida pela Constituição brasileira, os poderes precisam atuar com independência e de forma harmônica para que o país avance.
Este é o momento de os governos que saem e os que estão por assumir agirem com o máximo de responsabilidade fiscal, para não prejudicarem ainda mais o país e os Estados. É o que tende a ocorrer, por exemplo, com os aumentos salariais engendrados via parlamentos, como o dos ministros do STF, aprovados ontem pelo Senado, e que provocam uma cascata de reajustes em todas as instâncias da federação. Quem perde com esse tipo de iniciativa é a sociedade de maneira geral, pois fica privada de serviços básicos, como segurança e saúde, não os governantes e parlamentares, que, como sempre, estão apenas de passagem pelos cargos.