Por Vinícius Alves, mestre pelo Programa de Pós Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas
A maioria dos países ocidentais cometeram práticas racistas, xenofóbicas, e cometem intolerâncias notadamente religiosas, mas no caso específico do Brasil a escravização dos negros abrangeu um período de mais de 350 anos, sendo o último país do Ocidente a abolir a escravatura. Tão nefasto quanto à prática sistemática do racismo, são as atitudes de negar a sua própria existência.
Teorias "científicas" preconceituosas afirmavam a falta de capacidade ou de inteligência dos negros. Livros de renomados escritores apresentavam o Brasil como uma "democracia racial", isto é, um verdadeiro paraíso, sem preconceitos ou quaisquer distinções discriminatórias, o que traz à tona um problema histórico, de um país onde o racismo é velado.
Apesar de o racismo ser considerado um crime inafiançável e imprescritível, de acordo com a Lei 7.716/89, com previsão de pena de prisão para quem discriminar por raça, cor, ou religião, atitudes racistas têm ocorrido nos esportes, em universidades, nas redes sociais, dentre outros, com ações de aversão ou ódio, resultantes da crença de que existem raças e tipos humanos superiores ou inferiores.
Não obstante, a insistência de alguns em afirmar a não existência do racismo no País, se faz necessário assumir um compromisso coletivo para erradicar as práticas racistas, do preconceito e da discriminação, porque em nada contribuem para a harmonia social, apesar dos esforços envidados pelos movimentos sociais engajados em afirmar os ideais de promoção social, cultural e estrutural do negro na sociedade brasileira.
É urgente consolidar os valores de uma pátria menos excludente e mais igualitária, construída a partir das diferenças e não por cima delas, através de um processo articulador de esperança com os afrodescendentes, pois a sociedade só será de fato democrática se houver igualdade de oportunidades, além da boa convivência e do devido respeito pelo outro.
Daí a importância do reconhecimento na realidade brasileira da diversidade social, e de uma educação cujo compromisso seja enfatizar a coexistência igualitária, com vistas à valorização da negritude, permitindo o seu acesso aos espaços de poder, em detrimento dos grupos dominantes que ignoram as discriminações cotidianas onde os negros são excluídos.
O Dia Nacional da Consciência Negra é um convite à reflexão, bem como uma data oportuna para reafirmar permanentemente a cidadania, e a luta do povo negro para a construção da sociedade nacional, importa também celebrar a memória de Zumbi dos Palmares, símbolo de resistência, e figura emblemática pelo fim do regime de escravidão no Brasil.