Por Fábio Bernardi, sócio-diretor de criação da Morya
Foram necessários 46 anos para a eletricidade chegar a 25% das casas nos Estados Unidos e apenas dois anos para os smartphones alcançarem o mesmo percentual. E, como este, há inúmeros outros dados que evidenciam a velocidade exponencial da tecnologia. O atual ritmo das mudanças nos levou ao que Gramsci chamou de “interregno”, aquele espaço onde o que era já não é mais, e o que vai ser ainda não é.
Durante a revolução industrial, de uma hora para outra, os artesãos passaram a não conseguir mais viabilizar da mesma maneira os seus negócios, que ficaram lentos e caros quando comparados aos produtos industrializados feitos em série. E, como este, poderia citar vários outros exemplos de empregos, empresas e habilidades que se tornaram anacrônicos pelo avanço da inovação (é bom não tratar o termo inovação apenas como sinônimo de tecnologia, isso também é um conceito anacrônico).
E se pensarmos em países? O mundo está avançando rapidamente em desenvolvimento, inovação e pesquisa. Mas, no Brasil, falta senso de urgência para o tema. Enquanto uma empresa brasileira leva um mês produzindo moldes de sapatos, um carro já é impresso em 3D num laboratório americano. Das 10 empresas brasileiras que mais deram retorno aos acionistas, nenhuma é do setor de tecnologia. Lá fora, a inovação domina o ranking, em nove das 10 empresas mais rentáveis. Nos países mais inovadores, como Estados Unidos, Israel, China e Irlanda, inovação é um investimento público, mas é também fruto da aproximação concreta e intensa entre iniciativa privada, governo e a academia. Por aqui, empresas, governos e universidades sempre se uniram em projetos pontuais, ou quase sempre em dupla, deixando de fora um destes atores.
Por tudo isso, e sob qualquer ponto de vista, merece aplausos a iniciativa Pacto Alegre, lançada na semana passada, impulsionada pela Aliança pela Inovação, catalisada pela prefeitura, apoiada por empresas parceiras e aberta para a participação de toda a sociedade. A quádrupla hélice (universidade, iniciativa privada, governo e sociedade) trabalhando unida em torno de um mesmo, único e grande objetivo: levar Porto Alegre a dar um salto em inovação, criando uma nova mentalidade coletiva, mais aberta, colaborativa, criativa e contemporânea. E com uma importante diferença em relação a iniciativas anteriores: a contratação do consultor Josep Pique, com sua metodologia inovadora que fez de Barcelona e Medellín referências mundiais em transformação social.
É comum a gente ver, ler e ouvir sobre inovação. Incomum é fazer. E agora todos nós teremos, de uma forma ou de outra, a oportunidade de viver e fazer inovação na nossa cidade.
Se vai dar certo? Já deu.