Por Sérgio Gischkow Pereira, desembargador aposentado
O general Augusto Heleno, que será ministro do Gabinete de Segurança Institucional do presidente eleito e um de seus principais conselheiros, reconheceu que "o problema da América do Sul é que sempre as elites ignoraram os mais pobres". "Isso é um absurdo. Eu acho que a culpa do que acontece na América do Sul é das elites. As elites sempre viveram para si e sempre ignoraram a desigualdade social" (Valor Econômico, 13.11.18, p. A12).
As palavras do general estão absolutamente corretas! Ele disse o que é evidente.
Aliás, na própria "direita econômica" isso vem sendo reconhecido por várias vozes. Revela-se pitoresco e relevante que, no atual momento de radicalismo estúpido e busca de comunistas atrás das portas e embaixo dos colchões, as palavras tenham sido ditas pelo general Heleno.
A prestigiada American Economic Review situou o Brasil entre os países com desigualdade extrema, juntamente com países do Oriente Médio, a Índia e a África do Sul (idem, Naercio Menezes Filho, 28.09.18, p.A15).
Com extrema desigualdade, não há educação, não há saúde, não há desenvolvimento econômico que se mantenha, não há dignidade humana, não há política de segurança pública que resista a médio e longo prazo (a criminalidade só vai aumentar cada vez mais). Se desigualdade não influenciasse a criminalidade que aflige diariamente o povo nas ruas (não confundir com crimes do "colarinho branco", que têm outras causas), o mesmo problema afligiria os povos da Noruega, Suécia, Dinamarca, Suíça, Bélgica, Holanda, Canadá e tantos outros. Pior é ter que proclamar uma obviedade destas!
Já que outros não são escutados, pois que sempre considerados "vermelhos", que pelo menos o general, sabidamente não portador daquela coloração, o seja, e aumente a sensibilização para o mais grave problema nacional, em vez de muitos apelarem para a alienação e para a triste fuga para o estrangeiro.