Por Benedito Felipe Rauen Filho, vice-presidente de aposentados da Ajuris
O primeiro turno das eleições deste ano registrou abstenção de 20,3 % do eleitorado, a maior desde 1998, equivalendo a quase 30 milhões de eleitores faltantes. No Rio Grande do Sul, o percentual foi de 18,1%, o que corresponde a aproximadamente 1,5 milhões de cidadãos que não exerceram o direito de voto.
A maior parte destes números se refere aos eleitores idosos, com mais de 70 anos de idade e por isso não mais obrigados a votar, e que constituíram quase 6,9 milhões de eleitores no país, e no RS somaram 59% do estrato.
É certo que dentre os computados alguns faleceram e ainda não houve baixa dos títulos, enquanto outros não compareceram por mentalmente comprometidos e sem condições de manifestar a vontade. Outro tanto foi ausente por dificuldades locomotoras. E muitos outros por desinteresse fundamentado no pensamento de que a sua abstenção não faria diferença, ou ainda por insatisfação com as opções apresentadas e desagrado com o clima conflituoso que tomou o atual processo eleitoral.
Pois não custa lembrar a notícia do Informe Especial de ZH de 23 deste mês, sobre o aniversário de 105 anos de idade do desembargador Garibaldi Wedy, o qual, em que pese sem condições de se locomover, mas com invejável lucidez, não abre mão de votar, o que fez no primeiro turno e repetirá no próximo domingo, levado em cadeira de rodas até a urna por familiares. Provavelmente será o eleitor mais velho presente na votação no RS, e talvez até no Brasil.
Dificuldades locomotoras muitas vezes podem ser superadas, como mostra o exemplo. Sempre haverá alguém que possa auxiliar o eleitor a ir até a urna.
Desinteresse por entender que o voto do idoso tem pouco valor é um erro grave. O número de idosos indica potencial para decidir eleições. E se correspondemos a aproximadamente 1/3 da população brasileira, votar pode ser uma opção, mas fazê-lo para participar do destino da pátria é uma obrigação.
E é certo que o clima reinante no país não ajuda a motivar, mas talvez por isso mesmo os mais velhos devam dar exemplo, levando a serenidade ínsita à idade para as urnas, procurando desarmar os ânimos e conclamando ao respeito do resultado.
Vale lembrar Cora Coralina, que se consagrou na poesia ao publicar o seu primeiro livro aos 76 anos de idade:
"Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir e chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é decidir".