Por Lama Padma Samten, lama budista brasileiro da tradição Nyingma do budismo tibetano e presidente do Centro de Estudos Budistas Bodisatva CEBB
Sua Santidade o Dalai Lama afirma que a compaixão é a base da sociedade e não a economia e lembra que todos desde nossa infância fomos e somos apoiados a fundo perdido por uma rede compassiva. Hoje está claro que essa rede inclui a multiplicidade de seres da biosfera e ela mesma constitui a vida desde sempre.
Quando sentados em roda, nos olhamos diretamente e pensamos sobre o que está andando bem e como melhorar nossas vidas, brilha a inteligência compassiva fundadora das redes que dão sentido a nossas vidas. Somos então capazes de entender e acolher as visões e os mundos dos outros, e surge a auto-organização como a capacidade coletiva de criar soluções práticas e ações em meio ao mundo.
Nosso desafio presente é acionar a inteligência da rede compassiva e definir nossas prioridades e visões de futuro, assim uma nação é fundada. Precisamos ultrapassar o estreitamento da visão herdada do passado colonial que nos coloca na posição inferior de criar e sustentar uma elite e dela demandar as soluções que nunca vêm.
Quando olhamos os países que tiveram êxito dentro da visão econômica mas enfraqueceram as redes de inteligência compassiva, vemos que atualmente se defrontam com epidemias como depressão, mortes por overdose, suicídios, violência nas escolas, TDAH, expansão da população carcerária, endividamento dos governos e da população, violência urbana, concentração de poder e renda, sectarismo, radicalismo – as pessoas perderam o sentido de suas existências. Não é isso que precisamos.
A agenda das eleições finda com a divulgação dos resultados. A agenda das redes de inteligência compassiva é permanente, a transformação é silenciosa, mas visível.
No tempo imediato a prioridade brasileira não é reprimir e manter as pessoas em prisões, mas assegurarmos que as visões de mundo e as estruturas que levaram a tantos sofrimentos sejam transformadas. Precisamos de pacificação e reordenamento institucional. O culpado é a estreiteza da visão. Não temos inimigos. Isso se aplica a todos os âmbitos e não apenas ao mundo político.