Por Michel Gralha, advogado
O desafio de escrever um artigo sobre eleições antes do seu resultado é enorme. Momentos antes do fechamento das urnas, como em raras edições da nossa história, não tínhamos a menor ideia do que aconteceria. E quando todos tiverem acesso a este texto, provavelmente, saberemos ou estaremos muito perto de saber. Porém, não há tema mais oportuno do que este para escrever. O principal assunto que norteou nossas vidas nos últimos meses, desfazendo amizades e até laços familiares, foi a política. E que notícia maravilhosa.
Parece que finalmente a população começa a acreditar que uma das únicas formas de mudarmos nossa sociedade é fazendo justamente o que não fazíamos há anos, envolvendo-nos com política. Óbvio que o pleito deste ano exacerba este envolvimento, pelos dois supostos opostos que temos, direita e esquerda. Aliás, ponto de vista equivocado, pois infelizmente não temos candidatos de direita no Brasil. Nossa cultura dependente do Estado e de seus benefícios dificilmente permitiria uma eleição de um candidato genuinamente de direita. Uma pena, mas uma realidade. No máximo, teremos um centro-direita. Então, por que estamos tão divididos? Quais as nossas diferenças?
A resposta passa, necessariamente, pelas nossas instituições e pela esperança de algo inédito, aquilo que ainda não conhecemos. Naturalmente, aqueles que acreditam no sistema judiciário brasileiro, em tese, não poderiam votar em um partido que tem seu líder preso por corrupção. Seria como atestar que roubar no Brasil é permitido. Que seremos governados “de dentro” do presídio. Aliás, como estamos acostumados a ouvir em jornais, com o aumento da criminalidade nas ruas.
De outro lado, há aqueles que não se permitem votar em um suposto discurso de ódio e preconceito e relativizam a questão da corrupção, falando em injustiça ou colocando todos os políticos no mesmo balaio e dizendo que votaram no menos pior. Enfim, não há argumentos para todos os lados, pois um deles já conhecemos, porém, culturalmente, fomos treinados para criá-los. Que nossa decisão tenha sido acertada, caso contrário, tenho dúvidas se teremos saúde para aguentar mais quatro anos de caos.