Por Paulo Antônio Zawislak, professor da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Núcleo de Estudos da Inovação (Nitec)
O agro é tech, o agro é pop, mas o agro ainda não é de fato tudo! Temos recursos e produtos de qualidade, mas focados em commodities, tanto para o mercado interno quanto para exportar. Falta variedade. Temos tecnologia, mas pouco difundida, pois grande parte dos produtores e empresas são pequenos, focados em custo. Falta margem para investimento. Temos cadeias estruturadas, mas baseadas na intermediação e na transação ao menor preço. Falta inovação.
Não basta simplesmente incorporar novas tecnologias para qualidade e produtividade de commodities. Claro, gerar supersafras significa sucesso. Isso parece melhor ainda se pensarmos com cabeça de consumidor, pois poderemos comprar mais barato. Mas, se refletirmos sobre o país, o cenário é diferente.
O aumento de produção física raramente leva à ampliação da variedade e do valor. Nos últimos 10 anos, na mesma proporção que ampliamos o volume, reduzimos a complexidade de nosso agronegócio. O sucesso da comoditização hoje será a perda de riqueza amanhã.
O problema se amplia quando olhamos para a agricultura familiar. Em vez de tirar vantagem de sua baixa escala e focar na produção de valor agregado e variedade, ela tenta competir – sem os baixos custos da agricultura de larga escala – com produtos simples.
Trazer o high-tech para o low-tech fará o agro entrar no século 21 e ser de fato ‘tudo’.
Não haverá sucesso duradouro se não houver aliança de nossas vocações e vantagens com novidades. Pensando nisso, quatro são os caminhos da inovação para o agronegócio.
1. Os produtos premium, voltados para nichos, caem como uma luva para a produção familiar. Produtos orgânicos, funcionais, gourmetizados ou com denominação de origem geram retornos com baixa escala e sustentabilidade.
2. A ‘terroirização’, uso da relação entre natureza, tecnologia e atuação do homem para aumentar a especialização em razão da localização, aumenta a eficiência. Tal qual um bom vinho, o segredo é fazer certo, no lugar certo.
3. A revolução digital transforma velhos padrões e cria novos. De um lado, a conectividade, ao retirar a intermediação, reduz custos de quem compra e amplia ganhos de quem vende. De outro, os sistemas de automação e controle da Agro 4.0 abrem um leque de possibilidades nunca antes imaginado.
4. As agrotechs são novos modelos de negócios que trazem uma nova lógica de estratégia e organização para garantir valor agregado.
Trazer o high tech para o low tech fará o agro entrar no século 21 e ser de fato ‘tudo’. Vamos ganhar exportando valor agregado e economizar importando custos!