Produtores, técnicos e estudantes aproveitaram o Campo em Debate - O Futuro do Agronegócio, realizado no dia 14 de novembro, em Porto Alegre, para fazer questionamentos sobre o futuro do agronegócio. Confira abaixo:
A falta de automação será aspecto excludente para os produtores no futuro?
Rafael Sousa – Os produtores estão correndo muito atrás da automação e esta é uma realidade não só do Brasil. É claro que a automação nos Estados Unidos, Europa, Japão e Austrália é maior, mas a gente não está longe em muitos setores. Estamos até na frente em alguns. A automação é uma necessidade mundial, e essa corrida tem como desafio a integração entre quem entende de automação e quem entende de campo. O diálogo precisa se estreitar. O produtor que não tiver automação não conseguirá melhorar a produtividade. Geralmente, as grandes tecnologias chegam primeiro aos grandes produtores e depois vão sendo adequadas para os pequenos. Esse é um desafio para os centros de pesquisa, universidades e empresas como uma forma de reduzir as desigualdades no campo.
Há possibilidade de o governo brasileiro pagar por serviços agroambientais ao produtor?
Paulo Roberto Martinho – Na atual situação, o governo não deve pagar, mas se torce para que sim. O serviço ambiental que o agricultor presta é grande, e ele só tem ônus. O governo poderia diminuir a incidência de impostos, como o Imposto Territorial Rural nas áreas em que o produtor não pode usar, isso é factível. Mas, se vai acontecer, acho que não.
É possível a implantação de receituário agronômico online para aquisição de agrotóxicos
Roberto Sant'Anna – É difícil para o mundo urbano compreender uma ação preventiva quando falamos de uso de defensivos. Quando o meio urbano entender essa necessidade, será possível, por meio de uma assinatura digital, ter uma receita agronômica que viabilize a venda online.
Há automações criadas, lançadas mas não disponibilizadas. O que falta para viabilizá-las comercialmente?
Rafael Sousa – O problema da robótica é a segurança. Como o campo é um ambiente adverso, além de o robô ter de fazer sua própria tarefa de plantio ou colheita, ele precisa estar sensoriando o ambiente para não destruir a plantação, para não atropelar nada ou colidir. Além disso, há diferentes realidades.
Caio Nemitz – A renda no campo, hoje, não é boa. Ainda há muito a fazer dentro da porteira para qualificar os processos. Uma questão importante é ter discernimento de onde e como investir bem nessas novas tecnologias.
As máquinas estão preparadas para enfrentar chuva, poeira, frio e calor?
Rafael Sousa – Estes são os desafios no ambiente agrícola. O robô na indústria já é bem comum. Por que ele não está no campo? Por causa desses desafios, que encarecem o produto, porque se precisa equipar mais a máquina para que ela trabalhe em ambientes mais complicados.
Quais tecnologias de gestão agrícola ajudam na compra e venda pela internet?
Rafael Sousa – Há o Farm Management Information System (FMIS), que integra informações da unidade produtora com o fornecedor e com o distribuidor. Tenho visto iniciativas nesse sentido no Brasil. Mas o que é produzido na Europa não se adapta aqui. Começa pela questão do imposto, que é totalmente diferente. Integração de informação é uma das palavras-chave.
Carlos Scheibe – Quem faz o programa não conhece a realidade do campo. Já comprei quatro sistemas de gestão e uso minhas planilhas do Excel. Sobre automação, temos um problema cultural uma vez que quem está tocando a fazenda não está acostumado. A nova geração virá com tudo.
Qual a importância da comunicação entre diferentes máquinas?
Rafael Sousa – Fiz parte de uma força-tarefa chamada Isobus que tentou divulgar o uso de tecnologia aberta, um padrão internacional que integra a eletrônica do trator, da colheitadeira, não importando a marca do equipamento. Aqui no Brasil, se tenta entender por que isso não é assimilado. Na Europa, já é bastante comum, e tratores acima de 80 cv saem de fábrica com Isobus. O produtor tem de pedir para as empresas porque é o que resolverá o problema de conexão.
Rafael Sousa, professor e coordenador do Grupo de Robótica e Automação para Engenharia de Biossistemas da USP
Roberto Sant'Anna, gerente de Inovação da Andef
Paulo Roberto Martinho, analista de geoprocessamento da Embrapa
Caio Nemitz, produtor e cerealista em Alegrete
Carlos Scheibe, empresário e produtor rural em Chapada