Por Rafael Souto, sócio-fundador e CEO da Produtive Carreira e Conexões com o Mercado
O respeito às diferenças é um mantra da sociedade moderna, principalmente para aqueles que se consideram mais avançados e progressistas.
A importância e o valor ao diferente, a tolerância às minorias seguem, cada vez mais, se fortalecendo como pauta de agentes públicos, líderes empresariais, profissionais de Recursos Humanos e ativistas de causas sociais. Não há dúvida dos ganhos dessas ações para a sociedade para o fortalecimento de uma cultura de inclusão.
Porém, parece que temos esquecido da principal base da pluralidade: a diversidade cognitiva, que nada mais é do que o direito de pensar diferente.
No ambiente corporativo, vejo que está cada vez mais difícil divergir. Isso pode levar à perda do emprego pelo desalinhamento das ideias, que significa impor sua visão ao outro e não permitir o florescimento de ideias diferentes da corrente de poder predominante na empresa. Também se reflete na forma de gerir a carreira nas organizações. Líderes que trabalham no modelo de comando e controle detestam questionamentos. Ao contrário, o repelem com força. E todos os dias vão para as reuniões de inovação, diversidade e outras pautas simpáticas vestindo uma máscara de modernidade.
No cenário político, caminhamos na mesma direção. Estamos em um cenário eleitoral polarizado, que é natural na democracia. Faz parte dos movimentos pendulares e das ondas de poder. O atípico, no entanto, é a falta de respeito à opinião diversa.
Os mesmos que defendem a diversidade, protegem a democracia e têm receio de comportamentos autoritários são os primeiros que descarregam ódio nos que pensam diferente. Não aceitam opinião diversa. Estamos divididos entre certos e errados. Todos cheios de argumentos. Como se estivéssemos num jogo de tabuleiro, armados e irritados.
A fragmentação tem um limite. A linha final surge quando deixamos de perceber o valor da opinião do outro. Ficamos obcecados, cegos e anestesiados pelo nosso campo de visão. A agonia da democracia está na miopia das percepções e, nas trincheiras ideológicas, esquecemos da pluralidade.
Nas redes sociais, expomos fotos sorridentes e filosofias sobre respeito ao outro, mas isso só vale para os que fazem parte do mesmo clube.
Somos um país em amadurecimento das instituições e de nossa consciência política. Cabe aos que defendem a democracia e a liberdade tolerarem posicionamentos diversos como sinal da sua expressão máxima. Não devemos excluir o diferente. Ou será que na democracia só é permitido pensar da mesma forma?