Por Paulete Sander dos Santos, psicóloga clínica
Vivemos hoje um clima de insegurança e insatisfação intensos. Somos, com isso, tomados por uma necessidade voraz de usar de todos os meios para nos proteger, nos assegurar de não sermos engolidos pelos violentos fatos que perfazem nosso convívio diário.
Não há mote que domine mais o discurso público do que o tema da transparência. Evocado enfaticamente por todos e conjugado sobretudo com o tema da liberdade de informação, que cobra, que se deem explicações constantes sobre tudo que diz respeito aos nossos atos (assunto discutido pelo sociólogo Byung-Chul Han, em seus livros: "A sociedade da Transparência" e "A sociedade do Cansaço"), vamos embarcando em um movimento acelerado de pressão e coação constantes.
Não nos perguntamos porquê estamos precisando disso. Não nos perguntamos se estamos sendo pressionados ou coagidos a buscar uma transparência e, se esta, é parte de nossas necessidades ou simplesmente estamos adotando um discurso pronto. Não nos perguntamos onde foi parar o compromisso ético com o social. E muitas outras questões pertinentes a este universo de insatisfações que invadem nosso dia a dia.
Quem relaciona a transparência apenas com a corrupção e a liberdade de informação desconhece seu real alcance. Quando necessitamos ser vigiados estamos colocando em duvida a honestidade, a ética e a moral.
Estamos penetrando na intimidade, violando a autonomia e a espontaneidade.
A alma humana necessita naturalmente de esferas onde possa estar junto de si mesma, sem o olhar do outro. Pertence a ela uma impermeabilidade que só é possível com o respeito a individualidade , a espontaneidade e a autonomia.
A Sociedade da Transparência, segundo Han, que citei acima, "não tolera lapsos de informação nem lapsos visuais, mas o pensamento e a inspiração necessitam de um vazio".
Atualmente, por conta da crescente onda de informações, está se encolhendo cada vez mais a capacidade superior de juízo, a capacidade de pensar, o vazio que nos impulsiona a desejar, a criar e transformar.
Não seria melhor se pensássemos em educar para o respeito do que é próprio e do que é privado, para o cuidado de si e do outro, para o limite ao direito, para reflexão e o juízo critico?
Qual o verdadeiro sentido da educação? Quem, de fato, é responsável por educar? (E aqui me refiro a educação em casa e na escola). Enquanto se discute ou se disputa "colocação de câmeras", se perde tempo e espaço de discutir e aprimorar o respeito, o bom senso, a ética e o cuidado, estes sim responsáveis por um convívio mais saudável.