Ainda que meritórias, as tardias liberações de verba para uma tentativa de reparação do patrimônio, depois dos danos provocados ao Museu Nacional pelas chamas, no Rio de Janeiro, não deixam de ser parte de uma sequência de erros. Os dados públicos demonstram que a falta de recursos e o maior equívoco estavam intimamente ligados ao modelo de gestão do museu, um apêndice virtualmente abandonado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na prática, a megauniversidade não tinha exatamente escassez de dinheiro para o museu. O que vinha ocorrendo era justamente um aumento gradativo na destinação de recursos para custeio da instituição de ensino.
Entre 2014 e 2017, os repasses de verbas para a universidade cresceram de R$ 2,6 bilhões para R$ 3,1 bilhões. As despesas com pessoal da instituição consumiram a maior parte desse acréscimo. Já as verbas direcionadas ao museu, que já eram escassas, despencaram 34,3% entre 2013 e 2017. Como costuma ocorrer no falido modelo público brasileiro, os recursos não foram para investimento, mas para bancar aumentos de salários da folha da universidade.
A trágica realidade é que o Brasil se vê regido por um setor público que arrecada impostos apenas para se manter e abandona uma relíquia como o Museu Nacional à própria sorte. Ao mesmo tempo, esbarra em entraves para a busca de alternativas capazes de evitar não só a destruição da mais antiga instituição nessa área como a de todos os outros museus do país às voltas com uma situação de penúria.
Contribui decisivamente para a irresponsabilidade no uso de dinheiro público a noção generalizada de que o Estado, em vez de pertencer a todos, é de ninguém e, portanto, cada um pode levar seu butim. Esse tipo de mentalidade ampara a falta de indignação generalizada com o sujeito que furta a tampa do bueiro, o que recepta fios de cobre da iluminação ou depreda bens de uso coletivo.
O patrimônio público deveria ser consagrado todos os dias e respeitado geração após geração. Nenhuma nação se forma sem esse respeito coletivo. Que o incêndio do Museu Nacional sirva ao menos para acordar os brasileiros no trato dos interesses da maioria silenciosa do país.