Por Rodrigo López Zilio, promotor de justiça e coordenador do gabinete eleitoral do MP-RS
Eis que chegamos à oitava eleição geral desde a Constituição de 1988. Falta pouco mais de duas semanas para o reencontro com as urnas. A campanha chega ao seu fim despercebida. É uma eleição envergonhada. Quase não há propaganda. Por vezes, encontra-se nas ruas um desavisado portando uma bandeira aqui ou distribuindo panfletos acolá. A diminuição das formas permitidas de propaganda, o encurtamento do período de campanha e a concentração dos recursos públicos nos grandes partidos compõem uma fórmula de excelência para a manutenção do estado das coisas. Esse quadro robustece o atual desalento da sociedade.
A visão de que a política é impura parece ganhar corpo. Por essa perspectiva, a política contamina a "boa moral", e quanto menor o espaço dedicado a ela tanto melhor. Ledo engano. Demonizando a política, contribui-se para desacreditar a democracia. Desse discurso surgem lideranças messiânicas, sustentadas em discursos radicais, que vendem soluções mágicas para problemas complexos.
Sem participar do debate político, o eleitor transforma-se em torcedor: vale é ganhar o jogo, não importa como. Nesse contexto, sem educação digital, as redes sociais tornam-se o palco apropriado para destilar intolerância, permitindo julgamentos sumários (pois, no mundo virtual, a verdade e a honra das pessoas não é o mais relevante). Indispensável retomar uma premissa: a democracia (ainda) é um bom caminho.
A democracia requer um aprendizado contínuo e não se resume à imposição de nossos desejos ou a um critério de maioria. Ela pressupõe respeito às minorias e o direito à discordância. Da mesma forma, o resultado das eleições, expressão legítima da soberania popular, não significa um fim em si mesmo. Ao contrário, ao fim de cada eleição o ciclo recomeça. E, assim, move-se a roda da democracia — afinal não encontramos, em nossa história, espaço para outro regime político mais adequado. Enfim, é tempo de expressar gratidão à democracia. Do contrário, o preço a pagar pode ser bem mais caro.