Por Lelei Teixeira, jornalista
Há um escancarado rastro de insatisfação social das pessoas que não encontram guarida diante da profunda crise ética, política e humana em que mergulhamos. Crise que fez renascer o conservadorismo, com o que há de mais velho e torpe, e deu asas a uma intolerância violenta, avessa à diversidade das sociedades plurais. Há uma devastação moral criada por políticos sem credibilidade diante da farra da corrupção que contaminou o país. E não há investimentos em ações voltadas para o desenvolvimento social e educacional, trabalho e saúde.
Vivemos um tempo de negação do humano. O valor maior é o capital. Por isso, volto a falar de acessibilidade e inclusão, com o foco no perfil das instituições bancárias, que diz muito da falta de sensibilidade dos agentes do mundo financeiro diante de pessoas com deficiência, como eu. O fato é que os donos do poder, governos e empresários que ditam leis e lucram sobre o dinheiro de todos nós, parecem incapazes de lidar com a fragilidade humana. E nossa fala não ecoa. Poucos querem ouvir.
Sempre que entro em um banco, encaro a incapacidade da instituição de pensar fora da norma para me auxiliar e auxiliar outras pessoas com dificuldades. No meu caso, bastaria um balcão mais baixo, uma escada ou um banquinho, mas é desejar o impossível. A cada tentativa de independência que faço, os rostos viram pontos de interrogação.
Nos caixas eletrônicos e nas agências bancárias não alcanço em nada. Nem mesmo no "buraco" para colocar celular e outros objetos que possam barrar o acesso. É claro que há funcionários solidários, mas não é disso que se trata. São inúmeros os olhares e nenhum questionamento sobre a necessidade real de promover o acesso. Todos tropeçam na burocracia. Mudar o script para quê? Melhor que os invisíveis permaneçam invisíveis.
Vem aí um bom momento para refletir sobre este assunto – a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, de 21 a 28 de agosto, com o tema "Família e pessoa com deficiência, protagonistas na implementação das políticas públicas". Precisamos urgentemente sair do discurso para a prática.