Por Igor Oliveira, consultor empresarial
Pesquisadores da Universidade de Estocolmo e da Academia de Ciências da Suécia publicaram, na revista Nature, um estudo que mostra que 68% dos lucros provenientes do desmatamento da floresta amazônica enviados ao Exterior entre 2000 e 2011 – período em que o Banco Central disponibilizou dados sobre essas transferências – foi parar em paraísos fiscais. Esse dinheiro é proveniente da produção de gado e soja em áreas antes ocupadas pela floresta.
Isso é preocupante não apenas pela falta de transparência a respeito do destino desse recurso, mas, também, pela perpetuação da lógica de exploração e evasão do capital natural brasileiro, presente desde que éramos uma colônia de Portugal. Dinheiro em paraíso fiscal dificilmente é reinvestido de maneira limpa.
Somos, portanto, uma grande nação que não conseguiu escapar da armadilha extrativista em quase 200 anos de independência.
Essa descoberta dos pesquisadores suecos desmonta, inclusive, o argumento de que é preciso desmatar para gerar desenvolvimento. Se o dinheiro sai do país e não é reinvestido aqui, não gera nenhum benefício para a população. Ou seja, não tem qualquer relação com o desenvolvimento. É pura exploração.
Como tratei anteriormente na coluna, a floresta está muito próxima de um ponto crítico, a partir do qual perderemos capital natural e biodiversidade mesmo que consigamos conter o desmatamento. Se, de fato, atingirmos esse ponto, uma riqueza enorme do Brasil e da humanidade estará perdida.
Como medida urgente, o Banco Central precisa voltar a disponibilizar os dados. Como política de desenvolvimento, precisamos eliminar os incentivos à produção de commodities e estimular a agregação de valor. A atividade agropecuária só merece subsídio se seu produto não for commodity. Não podemos ser eternos reféns da exploração de recursos naturais.