A imigração maciça de venezuelanos, que chegam ao Brasil pela distante Roraima, transformou-se em um desafio para o país. Com essas milhares de pessoas, que fogem da miséria gerada por um regime totalitário e violento, chegou também o gatilho da xenofobia, sentimento até então restrito às notícias que vinham da Europa, sacudida por ondas de fugitivos da guerra da Síria, e dos Estados Unidos, onde o presidente Donald Trump restringe a entrada de estrangeiros.
A reação violenta, a generalização e o ataque a essas populações são inaceitáveis. Remetem aos episódios mais lamentáveis da história da humanidade e contrariam a tradição brasileira de acolhimento e tolerância. Por isso, merecem atenção das autoridades e repulsa coletiva na sociedade os atos registrados, durante o final de semana, na até então pacata Pacaraima, no norte de Roraima.
Revoltados com um assalto que teria sido praticado por venezuelanos, moradores brasileiros da pequena localidade atearam fogo e destruíram barracas de famílias de refugiados acampadas em praças e terrenos da região. Não há, entre nós, quem não descenda de alguém que veio de longe, fugindo da pobreza, da perseguição ou trazido à força como escravo. Punir uma comunidade inteira por eventuais crimes cometidos por indivíduos é prática incivilizada, injusta e condenável.
Um país tem o direito de proteger as suas fronteiras e de estabelecer critérios para aceitar imigrantes, mas isso não pode, jamais, esconder ou estimular ideias racistas e xenófobas. O Brasil necessita de mais atenção à chegada de venezuelanos, haitianos e senegaleses. No longo prazo, a pluralidade cultural sempre se mostra positiva, desde que bem administrada. Mas no curto, embute desafios de integração que não podem ser desprezados.
Nem tudo são flores quando novas línguas e hábitos desembarcam em um novo ambiente. Mistura-se com isso o temor econômico da ocupação dos espaços de emprego e, assim, forma-se o caldo ideal para a intolerância. São necessárias políticas que vão além dos discursos inflamados de ambos os extremos: o romântico, que ignora os obstáculos e conflitos, e o fascista, que rejeita o diferente por princípio.
O ambiente de campanha eleitoral é uma boa oportunidade para avaliar o preparo dos candidatos para lidarem com esse assunto. Mais do que intenções, cabe aos postulantes à Presidência apresentar planos concretos para organizar a questão, preservando a integridade do Brasil e, ao mesmo tempo, nossa tradição humanista de bem receber quem aqui chega, a exemplo de nossos antepassados, em busca de oportunidades e de dignidade.