Por Alfredo Fedrizzi, jornalista e consultor
Nos últimos dias, tenho acompanhado discussões pelas redes sobre receber refugiados, agora mais focadas nos venezuelanos. As postagens são estarrecedoras e preconceituosas. Os argumentos não resistem a um mínimo de conhecimento histórico, além da total falta de empatia. O que muitos dizem: “Não devemos receber venezuelanos, nosso país já tem gente demais”, “Falta trabalho”, “Eles podem trazer doenças”, “Vão partir para a criminalidade”, “Leva um pra tua casa”, “Não podemos apoiar os governantes venezuelanos”, entre tantas bobagens.
Com exceção de alguém que tenha descendência 100% indígena, todos somos imigrantes! Basta olhar para os sobrenomes – italianos, alemães, polacos, russos, japoneses, chineses, portugueses. Enfim, a lista é interminável. Felizmente!
Formamos uma cultura acolhedora, criativa e trabalhadora, fruto dessa mescla de povos. Todos vieram (viemos) de fora. E fomos bem recebidos. Os motivos para tanta gente ter chegado ao Brasil estão nos livros e registros públicos, aqui e nos países de origem. E todos indicam que saíram em função da fome, epidemias ou conflitos.
O Brasil foi feito por imigrantes. É claro que herdamos bons hábitos dos indígenas, como tomar banho todos os dias e muito da nossa alimentação.
Acolher significa abrir espaço em nossos corações para quem está precisando de apoio. Não tem nada a ver com apoiar governos que provocam essas ondas migratórias pelo mundo. Até porque, quem sai do seu país ou está sendo perseguido, ou está muito vulnerável. Deixar involuntariamente a terra de origem, entes queridos, tudo o que tem, é muito doloroso. Não é uma escolha. É uma opção pela sobrevivência. Há poucos dias o jovem prefeito de Esteio me falou das resistências que enfrentou na sua comunidade por se dispor a receber 200 venezuelanos. É muito diferente da situação da cidade de Pacaraima, em Roraima, que tem 12 mil habitantes e, no último ano, por lá já passaram 127 mil venezuelanos fugindo da fome.
Mas Esteio tem 80 mil habitantes e vai receber apenas 200 pessoas. Além do fator humano, hoje, as regiões mais inovadoras do mundo, como o Vale do Silício, são os lugares com maior quantidade de pessoas de todos os países, e as empresas buscam, cada vez mais, ter uma mescla de etnias, que fazem os ambientes se tornarem mais criativos e transformadores. Se o espírito desumano de alguns que não querem receber esses imigrantes existisse na época dos nossos antepassados, nenhum de nós estaria aqui!