O assassinato de 12 motoristas de aplicativo na Grande Porto Alegre em um período de dois anos mostra que a tecnologia que tanto tem facilitado o deslocamento de pessoas pelas cidades não tem sido suficiente para proteger os condutores.
O maior número de motoristas em circulação e o fato de o carro não ter identificação ou uma cor padronizada, como é o caso dos táxis, estão entre fatores que podem explicar a crescente onda de ataques, mas não serve de justificativa para a falta de atitude mais firmes das autoridades e das plataformas que oferecem o serviço.
É fundamental que o mesmo critério rigoroso adotado para o cadastro de motoristas seja aplicado para o registro de usuários. É inadmissível que o uso de celulares de terceiros ou de perfis falsos sirva de meio para que criminosos escolham suas vítimas.
A fragilidade da ferramenta facilita que assaltantes, com a garantia de que não serão identificados, procurem condutores com menos experiência e com carros mais fáceis de serem vendidos. Cabe às plataformas, que disponibilizam o serviço, criar mecanismos para inibir a criação de cadastros fictícios.
O número expressivo de mortes mostra que a exigência de envio de foto de documentos do cliente no momento do registro é uma medida de proteção que merece ser considerada. Uma providência extra para evitar que condutores em busca de renda acabem ainda mais expostos à violência urbana. Também cabe às empresas adotar medidas para ajudar mais ativamente a polícia a solucionar crimes envolvendo motoristas cadastrados, facilitando o acesso aos dados de registro.
Seria razoável que, nessas circunstâncias que colocam vidas em risco, os aplicativos sejam mais rigorosos sobre quem embarca nos veículos, deixando de aceitar pagamento em dinheiro.
Com tamanha exposição à ação de criminosos, o veto à emenda da lei dos aplicativos de Porto Alegre que previa a obrigação de indicar ao condutor o destino da viagem antes de começar a corrida e o envio de foto, CPF e RG do usuário para pagamentos que não fossem em cartão foi um erro.
A justificativa apresentada pela administração municipal, de que a emenda geraria interferência no modelo de negócio e criaria situações que poderiam resultar em preconceito ou assédio sexual, é sem dúvida pertinente. Mas, frente à realidade da segurança pública da Capital, tal posição deveria ser revista.