A volta de doenças perfeitamente evitáveis por meio de imunização e o aumento na taxa de mortalidade infantil – considerado o principal indicador social de um país – sugerem sinais de um retrocesso preocupante diante dos quais os brasileiros precisam se manter vigilantes. As causas vão desde o impacto da recessão no período 2014-16, com a retração das receitas do setor público e o empobrecimento das famílias, até maior descuido em relação a cuidados mínimos com a saúde, particularmente das crianças. O sinal amarelo indica a necessidade de atenção máxima por parte do poder público, mas também de conscientização sob o ponto de vista da sociedade de maneira geral.
O fato de os dados acenarem com a perspectiva de melhoras no ano passado e de a situação servir para motivo de preocupação, mas sem provocar razões para pânico, não pode fazer com que esse alerta seja subestimado. O país vinha registrando avanços continuados na erradicação de doenças que podem ser prevenidas com políticas adequadas de saúde pública. E essa era uma das razões para a redução contínua nos índices de mortalidade infantil. O primeiro aumento na taxa em anos recentes recomenda uma mobilização para revertê-lo. O indicador é o primeiro a ser levado em conta em qualquer análise sobre o nível de desenvolvimento de um país.
Assim como as dificuldades do setor público, que afetam também as finanças de Estados e municípios, é importante avaliar as motivações sem qualquer relação com a crise. Uma delas é justamente o fato de tanto os pais como também quem atua na área de saúde se descuidar da importância da prevenção. Isso ajudaria a explicar em grande parte o decréscimo repentino na cobertura vacinal. Ao mesmo tempo, deve servir de reflexão para quem se vale de redes sociais para prestar um desserviço disseminando fake news até mesmo sobre vacinas, como se essas alternativas fossem potencialmente letais. Comportamentos tão condenáveis contribuem para reforçar ainda mais o caos que ameaça a saúde pública, se nada for feito para reverter o quadro.
O país não pode se conformar com o retrocesso em índices de vacinação e com o aumento na taxa de mortalidade infantil, o que vai exigir reforço nas políticas preventivas e campanhas de conscientização. Esse é um desafio coletivo, e não apenas do poder público.