A Operação Lava-Jato revirou o mundo político brasileiro, mas a decantação partidária nesta fase de pré-campanha mostra que pouco ou nada se transformou de fato quando se trata da montagem de alianças eleitorais. Na maior parte das movimentações presenciadas agora, o que parece importar mais não é o perfil ideológico e programático dos candidatos. O que pesa é a chance de vitória e de ratear o governo entre os partidos da aliança, como sempre se fez nesse conturbado e cada vez menos administrável presidencialismo de coalizão. Com pequenas variações, essa busca obsessiva pelo que rende mais se repete no âmbito dos Estados e também dos municípios.
Um dos responsáveis pela falta de coerência político-partidária é a busca de espaço no horário eleitoral, que garante mais tempo aos candidatos com base mais ampla. Desta forma, a aliança serve apenas a motivações provisórias e se desmancha em balcão de negócios assim que o governante chega ao poder. Muitos partidos hoje às voltas com acertos para que seus candidatos possam disputar as eleições em outubro só existem porque se fundiram por conveniências que nada têm a ver com os interesses dos eleitores.
Essa política clientelista ajuda a explicar por que o país não consegue resolver demandas mínimas da população. É inevitável que parlamentares e gestores públicos guindados ao poder por meio de siglas oportunistas passem a usar o erário em benefício próprio. Sob essa ótica, vale tudo para si e os seus. A preocupação deixa de ser a melhoria na saúde em benefício de todos, por exemplo, e é substituída por práticas como a interferência política em favor de vaga em hospital para um potencial eleitor. Esse tipo de postura explica em muito o descaso em relação à questão fiscal, o que acaba impactando o cotidiano dos contribuintes, com redução da qualidade dos serviços e, não raramente, aumento da carga tributária.
O descasamento entre os interesses das legendas e os dos eleitores precisa ser enfrentado, e logo, para o bem do aperfeiçoamento da democracia. Esse momento anterior ao início das convenções, que vão deliberar inclusive sobre alianças, é propício para o debate. Cabe aos eleitores pressionarem por partidos que se unam em torno de ideais, não apenas motivados pelas facilidades com que a política abre portas, atrai dinheiro, cargos e poder. Na maioria das vezes, essa deformação acaba significando margem ainda maior justamente para um efeito colateral do qual o país precisa se ver livre: mais corrupção.