Por Milena Dalacorte, gerente regional da Endeavor Brasil
Se não deu para o Brasil virar o jogo dentro de campo, fora dele a situação é ainda pior, especialmente para os empreendedores. Empreender no Brasil é como jogar em um campo esburacado, com a torcida vaiando, o juiz apitando contra e com o regulamento mudando a cada minuto. Por mais que o empreendedor queira marcar o gol e fazer o negócio crescer do jeito certo, são tantas regras e mudanças, que é quase impossível estar completamente regular.
Atualmente, 86,2% das empresas brasileiras possuem alguma irregularidade com algum órgão federal, devido à pouca clareza de suas obrigações. Não é à toa, portanto, que a complexidade dos processos públicos é o principal desafio dos empreendedores brasileiros, principalmente em três esferas prioritárias.
A primeira é referente a abertura, regularização e fechamento de empresas. Um ambiente de negócios que dispõe de processos fáceis e ágeis encoraja mais empreendedores a arriscar novos negócios. Contudo, leva-se, em média, 80 dias para se abrir uma empresa no Brasil, enquanto na Argentina, por exemplo, são 24 dias. O fechamento também é um tarefa árdua, dado que depende do negócio estar regularizado. A rigidez da regulação, bem como a quantidade e o custo dos procedimentos, desencoraja a abertura e o crescimento de negócios, diminuindo a produtividade da economia.
O segundo diz respeito à carga tributária. O Brasil figura entre os piores países do mundo em relação à carga tributaria e à dificuldade de pagamento de tributos, segundo dados do Banco Mundial. Estima-se que aqui são gastas, por ano, 1.958 horas para que uma empresa preencha os documentos necessários e pague os impostos devidos. O México, nosso rival derrotado dentro de campo, vence de goleada quando o assunto é ambiente de negócios lá são necessárias 240 horas anuais.
Por fim, acesso a capital é outro ponto fundamental quando a empresa está iniciando ou crescendo, dado que o empreendedor nem sempre tem recursos próprios para investir. Paradoxalmente, o problema não é a falta de dinheiro disponível no mercado, mas a complexidade para acessá-lo, como a apresentação de muitas garantias e pagamento de juros altos.
No jogo do empreendedorismo e desenvolvimento econômico, claramente estamos em desvantagem. Que a nossa competição seja por um melhorar ambiente de negócios, tornando as regras do jogo mais simples e transparentes, bem como os processos públicos mais eficientes.