Por Letícia Zereu Batistela, empresária, conselheira da Federasul e VP de Articulação Política da Assespro
A paralisação iniciada pelos caminhoneiros e apoiada pelos transportadores e produtores rurais trouxe prejuízos gigantescos para o país. Com a paralisação, veio o apoio popular de 84% do país. A histeria tomou conta de um povo que acreditava estar forjado para sobreviver a toda adversidade. Estoque de alimentos e produtos de higiene foi o primeiro passo. Aos poucos, a aprovação à paralisação deu lugar a um povo assustado e a boa vontade dos caminhoneiros foi nitidamente sequestrada por forças ilegítimas. Perdas de R$ 50 bilhões, fábricas paradas, vendas adiadas, exportações contidas, além dos milhares de animais mortos. Quem vai pagar esse prejuízo?
Não podemos ser reféns da paralisação que prejudica nossa economia e penaliza nosso povo. Vivenciamos uma espécie de Síndrome de Estocolmo, em que nutrimos simpatia por quem tolhe nossos direitos básicos, isso é surreal. Pois bem, e quando atendida essa reivindicação, tudo voltará ao normal? Até quando? A chantagem deu certo, vamos em frente, próximo setor da fila que se apresente. Sindicatos alertados, mobilizados para conseguir algum proveito desta situação, cheiro de carniça no ar. Precisamos acordar, este não é o caminho! Simplesmente porque não existe mágica, o cobertor é curto! Não mudaremos nada enquanto cada setor lutar isolado pela redução de seu lote de encargos de forma míope. Devemos exigir uma política estruturante sem conivência com chantagens e ameaças, tirando da mesa de negociação o nosso direito de ir e vir e a nossa dignidade. Reforçar nossos princípios e não flexibilizá-los. Enquanto isso, nossas lideranças tradicionais estão perdidas em uma negociação difusa, nascida em gritos de guerra nos grupos de WhatsApp, cedendo na pressão, na chantagem e na ameaça.
Não podemos apoiar a paralisação só porque simpatizamos e achamos justa a reivindicação dos caminhoneiros. Isso é errado, é rasteiro, é indigno com uma população já achacada por uma sucessão de governos pífios. E quem está à frente desta negociação? Líderes de caminhoneiros escondidos em grupos de mensagens e um governo enfraquecido. Um país forte se constrói com líderes legítimos com credibilidade, o que aliás é nosso maior problema. Quem são? Como prosperar uma negociação conduzida por lideranças desconhecidas com interesses obscuros? E estas lideranças tradicionais, embevecidas por cargos e benesses, seguem esquizofrênicas afundando em uma realidade paralela, alheias às mudanças sem entender por que seus velhos jogos de tabuleiro simplesmente não funcionam mais, esquecendo-se de que o jogo é o mesmo, só que agora virtual, onde as lideranças multiplicam-se exponencialmente e que a estratégia deve ser outra para sua própria sobrevivência.
Essa nova forma de "jogar" é positiva? Para quem sabe jogar sim, mas para quem ainda não entendeu as regras, é fatal. Como então encerrar uma paralisação que saiu do controle, multiplicada pelo uso da tecnologia com efeitos devastadores na economia, engolindo qualquer avanço? Como levantar um país de joelhos que clama exaurido pela redução de encargos de uma categoria, esquecendo-se de que o Tesouro nacional somos todos nós? Um bom início, é entender a nova forma de jogar e não ceder à chantagem.