O tema é árido e dificilmente encanta eleitores. Mas, como mostra reportagem de ZH sobre o novo recorde da dívida do Estado, não haverá outra questão mais relevante nas próximas eleições do que a discussão sobre como colocar as contas públicas em ordem. A arrumação da contabilidade estadual é a base para todo o resto: a manutenção dos serviços básicos, o pagamento em dia do funcionalismo e a retomada dos investimentos em obras.
Ano após ano, eleição após eleição, geração após geração, o Rio Grande do Sul vem se deixando iludir por alguma solução milagrosa que ponha as contas em dia. Os candidatos e partidos, quando em campanha, também não ajudam. Tratam o maior dilema do Rio Grande do Sul como se a realidade do Tesouro depauperado fosse um castigo imposto aos gaúchos pelo governante da hora. Instigados a apresentar propostas objetivas, os candidatos, em sua maior parte, costumam evitar o tema, tergiversar com platitudes como "falta de vontade política" e "pressão sobre governo federal" e vender fantasias de que é possível se corrigir um problema estrutural com medidas conjunturais, como novas ampliações de uma base tributária já sufocante para empresas e cidadãos.
Contra a vontade geral, mas premido pela urgência da virtual paralisação dos serviços públicos, o atual governo aumentou ainda mais as alíquotas do ICMs e vem batendo recordes de arrecadação. Nem assim houve mudança significativa no ponteiro das contas públicas. O fato é que, ao longo de quatro décadas, o Rio Grande do Sul inchou a máquina pública, concedeu benesses de toda ordem e se endividou sem pensar no amanhã. Agora, a fatura chegou e, para pagá-la, não há alternativas transitórias, superficiais ou simplistas.
A saída emergencial para estabilizar a catástrofe das contas estaduais seria a adesão ao programa de recuperação fiscal negociado com o governo federal, como fez o Rio de Janeiro. Essa alternativa impõe um mínimo de responsabilidade tributária e de contrapartidas, como a privatização de estatais. No entanto, o germe do populismo que se multiplica em períodos eleitorais contaminou novamente a busca de uma saída sem sobressaltos.
Para equacionar de vez o problema, o Rio Grande do Sul precisa ter consciência de suas fragilidades e demonstrar, sem picuinhas partidárias, disposição para enfrentar seus fantasmas e mitos, sem a sedução das falsas promessas. Sejam quais forem os próximos ocupantes do Palácio Piratini e da Assembleia Legislativa, é evidente que eles terão de adotar, em harmonia, medidas duras para administrar um orçamento exaurido e uma dívida crescente. A outra alternativa é seguir apregoando ilusões e se esquivar mais uma vez de recolocar o Rio Grande do Sul no caminho do desenvolvimento.