Por Ney Francisco Hoff Junior, advogado e mestre em Direito
O esgotamento dos acordos políticos e sociais que serviram de trava de segurança para a manutenção da ordem vigente comprovam que realmente estamos vivenciando o apagar das luzes da Nova República, ciclo político iniciado em 1985 juntamente com período de transição democrática. O interessante é que a Nova República foi inicialmente banhada por luzes democráticas, mas se encerrará fustigada pelas trevas do autoritarismo.
Não é à toa que as políticas sociais foram sempre questionadas durante os governos de esquerda.
Onde foi que erramos? Erramos no começo, pois existe um vício de origem da Nova República que é determinante para sua falência. Grande parte dos consensos produzidos dentro do período de transição democrática e insculpidos na Constituição Federal de 1988 não são verdadeiros. Como deputado constituinte, Florestan Fernandes denunciou a natureza protocolar e estéril da Carta Política vigente. O sociólogo sempre alertou que os acordos fictícios foram feitos para zerar os conflitos e disputas que tensionaram o sistema repressivo da ditadura. A sociedade brasileira, embriagada pelos festejos de uma constituição moderna, programática e cidadã, esqueceu-se de verificar a "autenticidade" do grande pacto firmado entre as elites e os representantes da social-democracia nacional. O Estado de bem-estar social nunca foi prioridade para as elites nacionais, foi somente tolerado como uma cláusula contratual desprovida de real aplicabilidade.
Não é à toa que as políticas sociais foram sempre questionadas durante os governos de esquerda. Não é por acaso que os gastos sociais são contingenciados por um governo elitisa aprovado por 5% da população. Neste momento, a nação brasileira encontra-se sitiada dentro da agonizante Nova República. Estamos emparedados diante da incapacidade de produzirmos consensos. Ainda não conseguimos perceber que a degeneração do sistema político é fruto de uma sociedade com muitos problemas. Por isso, a sociedade brasileira precisa evoluir para termos a oportunidade de praticarmos a política virtuosa sem a qual não poderemos alcançar uma mínima, mas verdadeira, pacificação e coesão da nação. O que surgirá depois do fim da Nova República dependerá do que estivermos construindo agora. Preocupante!