Após o impeachment, a nova equipe econômica apostou nos cortes de investimento público, aprovou a EC 95 (que congela os gastos da União por 20 anos) e intensificou medidas de contração fiscal.
A metáfora usada amplamente pelo presidente era de que administrar o país seria como administrar um lar. Quanto mais despesas se cortassem, melhor ficariam as contas e menor seria a dívida. A promessa era de que a dívida pública passaria a cair com os ajustes realizados.
A maioria dos pré-candidatos à Presidência se mostra simpática às medidas do governo Temer
Naquela época, muitos alertavam para o quão rasa era a comparação entre gestão pública e gestão doméstica. Passado um tempo, a equipe econômica de Meirelles notou que errou na mão nos cortes, previu um déficit exagerado que ajudou a estagnar uma economia já nocauteada.
Dados do primeiro trimestre de 2018:
– Desemprego voltou a crescer e atinge 13,7 milhões de pessoas.
– Trabalho sem carteira assinada e "por conta própria" supera pela primeira vez emprego formal.
– Investimento público cai para 1,17% do PIB e atinge o menor nível em 50 anos.
– A Dívida Líquida do Setor Público saiu de 38,9% em março de 2016 para 52% do PIB em março de 2018.
Toda a argumentação utilizada pelo governo para aprovar medidas como a reforma trabalhista e para propor congelamento do investimento público vem sendo derrotada pelos fatos. A contração estrangula cadeias produtivas inteiras, faz o investimento privado também se reprimir, insinua um horizonte de mercado interno com parca capacidade de consumir e, em consequência, enxuga a arrecadação. Cria-se, na verdade, um desajuste fiscal.
A maioria dos pré-candidatos à Presidência se mostra simpática às medidas do governo Temer. São considerados candidatos liberais. As quatro últimas eleições presidenciais mostram que essa perspectiva é "ruim de voto", um programa como a Ponte para o Futuro de Temer não vence eleições.
A Europa adotou a cartilha austera por uma década, pós-crise de 2008, e nenhuma evidência sugere que tenha dado certo. Portugal e Grécia estão se recuperando por meio de projetos que sabem a relevância de investimentos estatais. O Brasil e seus eleitores devem mirar esses exemplos.