Os Correios já desempenharam um papel fundamental no crescimento econômico das nações. Os mais jovens podem até não saber disso, mas já existiu um mundo sem internet, e-mail e WhatsApp. Pior ainda, já houve um tempo sem telefone ou televisão. Nesse mundo do passado, os Correios eram um elemento fundamental para a transmissão da informação e para a comunicação entre as pessoas e as empresas. Não é por outra razão que todas as nações criaram os seus Correios. O caráter de bem público associado a sua tarefa e as grandes somas de recursos necessárias para a sua criação tornavam natural que as empresas de Correios fossem estatais. Foi assim até mesmo em países que são o berço do liberalismo econômico. A dianteira esteve com o Reino Unido, que, em 1516, criou o Royal Mail. Os norte-americanos copiaram os ingleses e, logo após a sua independência, em 1775, instituíram o Post Office Department, indicando Benjamin Franklin como primeiro postmaster general.
Seu monopólio na entrega de cartas, torna-se cada vez menos relevante em função das mudanças tecnológicas dos últimos anos
Em diferentes países, inclusive no Brasil, onde sua fundação remonta a 1663, os Correios surgem como uma empresa pública que fornece um serviço essencial ao desenvolvimento das nações. Ao longo do tempo, para aproveitar ganhos de escala naturais a sua operação, os Correios tornaram-se uma empresa de logística, fazendo também o transporte e a entrega a domicílio de encomendas.
Contudo, no século 21, a realidade econômica e tecnológica é bem diversa daquela que levou à criação do correio estatal. Essas mudanças induziram diversos países a privatizar as suas empresas de Correios. Os alemães o fizeram em 1995 e os ingleses em 2013. Agora, esse debate sobre privatização chegou ao Brasil.
A nossa empresa de Correios sofre de dois tipos de problemas distintos. Por um lado, há a ineficiência usual da administração política de uma empresa pública, que está sempre sujeita à ingerência externa e ao assalto com fins políticos. No caso dos Correios, esse assalto atingiu não apenas a própria empresa, mas também o fundo de aposentadoria dos funcionários. O minguado lucro de R$ 667 milhões obtido em 2017 não abate nem 20% do prejuízo de R$ 3,6 bilhões acumulado em 2015 e 2016. Por outro lado, a principal vantagem competitiva dos Correios, seu monopólio na entrega de cartas, torna-se cada vez menos relevante em função das mudanças tecnológicas dos últimos anos. Ao longo do tempo, a nossa empresa pública de Correios terá de depender crescentemente da receita da entrega de encomendas, onde não há monopólio.
É preciso começar a preparar os Correios para a sua privatização. O exemplo inglês, de uma privatização paulatina, parece ser o mais adequado. Isso implica transformar os Correios em uma empresa de capital aberto, vender o controle mantendo uma golden share, que no caso da Inglaterra foi de 30%, e, posteriormente, vender a totalidade das ações.
Assim como ocorre com as privatizações de forma geral, o importante seria o ganho de produtividade a ser obtido, e não a receita extra de recursos oriundos da venda da empresa. O surgimento de uma empresa privada eficiente na área de logística, que entregasse encomendas sem atrasos constantes, poderia contribuir para o aumento de produtividade da economia como um todo.