Por Tiago Cirqueira, Gerente-executivo de Esportes e membro do Conselho Editorial da RBS
Foi no início da noite da última quarta-feira, dia 7. Enquanto o mundo voltava os olhos à chaminé da Capela Sistina, a Fifa anunciou as cidades-sede da Copa do Mundo de Futebol Feminino: Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Porto Alegre. Todas também sediaram jogos do Mundial masculino em 2014. Passados 13 anos, teremos mais um grande evento no Brasil – desta vez, uma oportunidade única de valorizar o nosso futebol feminino.
Vivemos em uma sociedade na qual mulheres protagonizam, lideram e transformam
E, se há cidades-sede, o evento já começou. No domingo, dia 11, será feita a primeira visita técnica ao Beira-Rio. Uma comitiva da Fifa estará em Porto Alegre para avaliar as adequações necessárias ao estádio. Ao compartilhar essa informação, ouvi de Valéria Possamai, repórter e produtora do Esporte do Grupo RBS: “E nós estaremos lá”. A vistoria ajudará a dimensionar a responsabilidade de sediar um megaevento. Também será chance para, como jornalistas e sociedade, avançarmos no debate sobre o espaço do feminino. Faltam cerca de 800 dias.
Em um ano em que celebraremos com orgulho a geração moldada por Marta, Cristiane, Pretinha, Formiga e Sissi, fica a pergunta: em qual sociedade esse momento ocorrerá em 2027? Naquela em que há um abismo entre as premiações e os salários de homens e mulheres? Ou em uma que valoriza o talento feminino e comemora a maior venda da história de uma jogadora? Que notícia ocupará as páginas de Zero Hora? E como contribuiremos para que as manchetes dos jornais, rádios e TVs sejam construtivas, positivas e igualitárias?
Vivemos em uma sociedade na qual mulheres protagonizam, lideram e transformam. É essencial dar espaço, visibilidade e oportunidade – não por reputação, mas com a perspectiva de que poder aprofundar essas questões significa contribuir para sua consolidação. E o jornalismo deve estar a favor dessa realidade.
No Esporte do Grupo RBS, há muito a avançar. Desde o microfone da RBS TV nas mãos de Carmem Lopes, na década de 1980, o cenário mudou. Há quase três anos, temos o Resenha das Gurias, com Valéria e Carol Freitas. Desde 2020, transmitimos as finais do estadual feminino em TV aberta. Em julho, “Joga Nelas”, com Mylena Acosta e Heloise Bordin, completa dois anos no Globo Esporte. Temos Vanessa Girardi, Amanda Munhoz e Manuela Ramos na gestão da área. Mas, sim, ainda há muito por fazer. E enormes conexões para criar. A existência da Copa do Mundo Feminina no Brasil não irá resolver os dilemas que enfrentamos. Há aqui mais uma oportunidade para que possamos juntos buscar soluções que nos orgulhem para além do ufanismo que o futebol gera de maneira ocasional. Essa pode ser a nossa conquista desde já até o depois da Copa.