O debate sobre a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou ofuscando, no Brasil, um dos mais tristes episódios da guerra civil na Síria, denunciado como um ataque químico que teria matado dezenas de pessoas. Por conta dessa barbárie, atribuída ao regime do ditador Bashar al-Assad, subiu o tom das acusações entre Estados Unidos e Rússia, numa triste reedição das tensões da Guerra Fria. A Humanidade não pode mais conviver com esse conflito, que já assassinou e desalojou milhões de inocentes e que ameaça se alastrar e envolver dois países com enorme poder militar de destruição.
A exemplo do que havia ocorrido há um ano, quando os Estados Unidos lançaram mísseis contra uma base síria, em resposta a um ataque semelhante, também agora o presidente Donald Trump promete revidar. Um aspecto preocupante no momento em que o mundo teme um confronto entre potências é a particularidade de o dirigente norte-americano recorrer não à diplomacia, mas às redes sociais para mandar seu recado, com provocações do tipo, referindo-se aos mísseis: "Se prepare, Rússia, porque eles estão chegando, bons, novos e espertos!"
Desde 2015, quando o governo de Vladimir Putin passou a apoiar militarmente o ditador Bashar al-Assad, tanto Moscou quanto Damasco consideram como terroristas os grupos rebeldes que tentam derrubar o comando sírio. As múltiplas crises na região são motivo de apreensão não apenas no Oriente Médio.
O que ocorre hoje na Síria preocupa sobretudo pelas dimensões de tragédia humanitária que a guerra civil vem mostrando há sete anos. O mundo precisa encontrar respostas satisfatórias que acenem com uma perspectiva de paz. Uma das consequências desta inação é que, pela primeira vez desde sua criação, em 1994, a Cúpula das Américas, no Peru, não contará com a presença do presidente norte-americano, que alega preocupações com os regimes de Damasco e de Moscou para sua ausência.
Além da paralisia de líderes globais e entidades multilaterais, também a falta de informações precisas contribui para o aumento das tensões e para as atrocidades contra civis na região. Nesse ambiente sem liberdade, provoca preocupações adicionais o fato de que o conflito parece estar longe do fim. Quando a linguagem dos mísseis é a única a ser compreendida, todos perdem.