Quando falo de diversidade, inclusão e diferença, falo de um universo humano muito vasto e complexo. Falo de trabalho, por exemplo, com a convicção de que não é uma simples execução de algo. Por mais mecânica que seja qualquer tarefa que um trabalhador execute, ao executá-la ele convoca um indivíduo único, com capacidades bem mais amplas, ou não, do que as exigidas. E a cada movimento cria-se uma nova situação que nenhuma racionalidade anterior é capaz de dar conta. Na perspectiva do filósofo francês Yves Schwartz, especialista no assunto, homens e mulheres na atividade de trabalho colocam em cena um saber que vem da sua história, da soma de várias experiências: familiar, social, cultural e profissional. Há sempre um dado subjetivo indissociável que necessita ser considerado. Há singularidade.
Um olhar atento para o sujeito vai perceber que os aspectos subjetivos são inevitavelmente mobilizados
É impossível pensar o exercício profissional sem levar em conta quem trabalha e suas escolhas, suas ideias, seus conhecimentos práticos, seus valores, seus dramas interiores. Mesmo que normas gerais regulem o agir social e sejam essenciais à sobrevivência humana, elas não dissipam a maneira com que cada um dá conta do seu fazer. Sempre teremos pontos de fuga, oriundos de um conhecimento não explícito. Até porque ser determinado apenas pelas normas, pelas imposições do meio exterior, não é viver. Ao contrário, é algo patológico, nocivo à saúde.
Há sempre um saber-fazer (norma) e um saber-agir (renormalização) que se integram na atividade de trabalho. Um olhar atento para o sujeito vai perceber que os aspectos subjetivos são inevitavelmente mobilizados. Embora as ações humanas sejam pautadas pela regularidade, cada pessoa, ao agir, mobiliza escolhas particulares e promove uma negociação entre o que está instituído e o que é da ordem do inesperado. De certa maneira, faz uma tentativa saudável de redesenhar parcialmente o meio em que está inserido. Viver traz sempre o desejo de criar, de ser. As normas são conquistas da sociedade, mas se olhadas como definitivas, apresentam o risco de desconsiderar "a vida que surge a todo instante".