Na edição de fim de semana desta Zero Hora, a colunista Claudia Laitano escreveu sobre o inevitável fechamento da locadora Espaço Vídeo, um daqueles lugares icônicos da cidade que representam um tempo e um segmento de negócios que não voltam mais. Hoje, ninguém mais precisa “locar” nada porque, agora, todo mundo “baixa”. O acesso foi reconfigurado em tempos de streaming e vídeos on demand.
No entanto, apesar de parecer mais fácil não ir até uma locadora, carregar fitas, pagar diárias e ter de devolver depois, a reconfiguração do consumo digital oferece dois problemas para a formação cultural das novas gerações.
O primeiro são, justamente, os algoritmos, que espiam o tempo inteiro aquilo que você lê, ouve, vê ou compra na internet. São eles que nos sugerem livros, filmes, músicas e notícias conforme padrões do nosso gosto. Ou seja, nos dão apenas aquilo que já sabemos que gostamos. Os algoritmos nos mantêm na bolha que nós mesmos criamos, retroalimentando a nossa própria visão de mundo e empobrecendo nosso olhar e nossas referências. Quanto mais assistimos, ouvimos, lemos e compartilhamos uma coisa, mais iremos assistir, ouvir, ler e receber aquela mesma coisa. O mundo digital potencializa o pecado do analógico: sem curiosidade para o novo, nosso universo fica menor. Só vemos o que sabemos e só sabemos o que vemos. Assim, obviamente, saberemos cada vez menos.
O segundo problema é oriundo do primeiro. Quanto mais assertivos os algoritmos, mais eles tornam obsoletos conteúdos que não agradam um número maior de pessoas. E como não há espaço infinito, e a produção cultural aumenta exponencialmente numa época em que todo mundo produz conteúdo, como armazenar tudo que é produzido? Quem diz o que é qualidade, aquilo que merece fazer parte de um acervo? Onde você vai achar aquele filme europeu? Aquele livro de um autor obscuro que marcou sua infância? Aquilo de que só você gosta?
É um paradoxo estranho no qual tudo pode ser customizado, mas o gosto coletivo influencia no que é disponibilizado para o consumo individual. Você gosta daquilo que mais vê, mas vai ver cada vez mais aquilo de que a maioria gosta. Mesmo na loja física da Amazon estão apenas os 5 mil livros mais consumidos digitalmente.
O problema de sermos convertidos em dados é que o seu algoritmo é o você de ontem, oferecendo o que é parecido com o que você já conhece. E isso é a morte da criatividade, que será ainda mais importante em um mundo robotizado. Daqui pra frente, seja curioso e enlouqueça o seu algoritmo.