As mais recentes denúncias e prisões estão apressando o fim do governo Temer, que, a nove meses para a posse do próximo presidente, vê ainda mais reduzidas as chances de reeleição. Apesar de a atual gestão perder força a cada dia, o quadro de enfraquecimento não pode, pelo bem do país, se transformar em vácuo de poder. A História nos ensina que esse tipo de vazio é instantaneamente ocupado por aventureiros ou por radicais, um risco que se torna cada vez mais concreto em um país que assiste a uma preocupante escalada de violência em várias camadas dos seus tecidos político e social.
É nessas horas que homens e mulheres verdadeiramente comprometidos com o Brasil devem investir esforços na manutenção da estabilidade política e institucional. A instabilidade, porém, não deve servir de pretexto para a impunidade ou para travar as investigações sobre corrupção, o maior clamor da sociedade brasileira hoje. É preciso ir até as últimas consequências no combate ao crime que sequestrou a esfera pública nacional e a sua interação com a parte podre da iniciativa privada. Isso deve ser feito, porém, com absoluto respeito aos trâmites e às instância definidas pela lei.
Essa é a hora da razão, dos projetos responsáveis e das soluções possíveis
O embate pelo poder é meio e não fim. O clima de intolerância representa ainda um risco extra, o de retirar da campanha eleitoral que se avizinha o debate sobre propostas para o futuro do Brasil, transformando as candidaturas em porta-vozes de ódios e antagonismos. Essa é a hora da razão, dos projetos responsáveis e das soluções possíveis.
Nos próximos meses, cabe ao presidente zelar pela político econômica e empreender a pouca energia que lhe resta na garantia de que o país siga no único caminho aceitável, o da transição pacífica de poder. Com a reforma da Previdência inviabilizada e com seus amigos atrás das grades, restam a Temer poucas opções.
É um bom sinal o fato de o país não parecer tão chocado pela prisão do círculo íntimo do presidente, o que já era previsível, dadas as evidências que vinham sendo expostas pela imprensa. A democracia brasileira vem resistindo a toda sorte de abalos, e é louvável que a vida do país siga da forma mais normal possível. Para isso servem as instituições: para garantir a normalidade individual e coletiva da Nação. Qualquer tentativa de subverter esse imperativo da vida democrática deverá sempre ser repelido com veemência e sem hesitação.