É impressionante a motivação dos retrógrados frente à ocupação de espaços públicos em Porto Alegre. Me refiro à tentativa de barrar o St. Patrick's Day. A instituição caricata Moinhos Vive, que lidera o atraso, mostra que viver o Moinhos não quer. Ou, melhor, o pequeno grupo obtuso não quer.
Sofistas, argumentam que a aglomeração impediria um idoso de alcançar o hospital em tempo. Eventualmente – mas da mesma forma que um avião em pleno voo, que uma avenida engarrafada em horário de rush, ou que o Carnaval de outros bairros. Se de fato se preocupam com os idosos enfermos, por que não trabalham da mesma para barrar estes outros? E, se o acesso fica difícil com a festa, imaginem com a festa e sem o auxílio da EPTC.
Muitos desses moradores do Moinhos devem ver os Estados Unidos com olhos de admiração; as festas de lá? Cosmopolitas. As daqui, barulhentas.
Aliás, o incômodo que tiveram até agora tentando barrar o evento certamente foi maior que o incômodo do evento em si.
É a Temperança contra a temperança. A primeira, com letra maiúscula, tem o mesmo nome do movimento que levou à Proibição, banindo o consumo de álcool nos EUA. A última, uma das quatro virtudes cardinais, acompanha aqueles que são moderados, comedidos, que entendem que um dia do ano com barulho não mata ninguém. Ao contrário, faz bem.
O memorável é que o resultado da Temperança e, consequentemente, da Proibição, será o mesmo que espera o Moinhos. Garantiu-se a renda dos contrabandistas (aqui, dos ambulantes, que os opositores alegam ser caso de polícia); o produto final (lá, o álcool, aqui, a festa) continuou existindo, de forma pior, com menor qualidade e controle.
A diferença é que os Estados Unidos aprenderam com isso, desenvolveram a temperança. Muitos desses moradores do Moinhos devem ver os Estados Unidos com olhos de admiração; as festas de lá? Cosmopolitas. As daqui, barulhentas. Quem sabe deveriam considerar o fato de que lá existe organização.
Os "proibicionistas" da Capital, por outro lado, esqueceram a temperança americana, e querem impor a Temperança – assim como a da Proibição, lotada de hipocrisia e falso moralismo.
Aqui, os que reclamam do todo barraram a parte que dá certo; ficarão apenas com a falta de organização.