Em tempos de crise moral, não generalizada, contudo alastrada aos mais diversos setores da sociedade, eis a lembrança da lição que recebia da minha mãe na infância, diante de algum comportamento inapropriado e mal justificado: "E se todo mundo fizer isso?". A lição era de que, se todos agissem de maneira transgressora e mal-intencionada, a sociedade não funcionaria. Na vida acadêmica, percebi que minha mãe sintetizara o pensamento de um importante filósofo alemão, do século 16, chamado Immanuel Kant, no qual elaborou sua mais famosa teoria moral que intitulou de imperativo categórico. Tal ideia, em síntese, nos recomenda e parte do princípio de que só é moralmente boa e válida a ação que for pautada no dever racional do bem agir e que possa ter, ao mesmo tempo, uma aplicação universal. Tal ação moral não estaria condicionada a nenhuma categoria ou forma de coerção, obrigação, crença ou medo. Estaria guiada apenas pelo digno dever humano do agir pela boa vontade.
Grande parte dos transgressores sabe que se suas ações se tornassem uma lei universal, praticada por todos, as relações fracassariam. Um político que desvia milhões dos cofres públicos ou um cidadão que sonega impostos não desejaria que suas atitudes se tornassem uma regra, pois, se assim fosse, o sistema entraria em colapso e não se sustentaria. Em nosso país, com a frequência que nos são noticiados os mais diversos casos e atos de corrupção, temos a clareza de que não se limitam ao campo político, pois são praticados pelos mais diferentes cidadãos. Por essa razão, e se estende ao coletivo e universal. Ou seja, não adianta cobrarmos honestidade de nossos representantes políticos ou demais indivíduos se não praticamos tal virtude.
Kant nos alerta de que o dever moral começa primeiramente de maneira individual
Sendo assim, torna-se fundamental analisarmos o reflexo de nossas ações no cotidiano social e prático, compreendendo que, em uma sociedade que compartilha direitos, deveres e obrigações, o papel de cada indivíduo é agir consciente de que parte de si próprio o início de uma virada moral, e que, independentemente dos fins ou resultados, possamos ser guiados pelo dever intencional do bem agir.