Estava de férias com a minha família no litoral catarinense e testemunhei, desde a minha cadeira de praia, a beleza e a feiura do ser humano. Não estou falando de corpos sarados ou não, estou me referindo à beleza e à feiura da natureza humana. Vi cenas lindas, comoventes e inspiradoras. Mas também registrei toda a sorte de situações no mínimo tristes. Por um lado, vi bebês sentindo o mar, talvez pela primeira vez, dando gritinhos entusiasmados diante de uma plateia de familiares com seus celulares, fotografando freneticamente o momento. Pais jogando bola com os seus filhos. Casais se beijando. Crianças fazendo castelos de areia. Surfistas para lá e para cá. Pessoas lendo ao som do mar. Famílias inteiras carregando toda a parafernália para passar um dia juntos à beira mar. Os nossos hermanos argentinos, que vieram em bando e até o final do dia estavam lá com seu grupo, jogando, tomando mate, fazendo algazarra e lambuzando-se daquilo que temos a oferecer: as nossas praias. Sem falar, é claro, do espetáculo da natureza, o pôr do sol conferindo um ar prateado ao mar e a montanha verde ao fundo, formando um conjunto que me deu a sensação de que a vida é sublime. Cabe a nós saber aprecia-la e usufrui-la.
Somos demasiadamente humanos, e a feiura concorre e contrasta com a beleza todo o tempo em nossa espécie
ELLEN BORNHOLDT EPIFANIO
Psicanalista aspirante (SPPA) e doutora em Psicologia (UFRGS)
Mas ao mesmo tempo, como é tipicamente humano, também captei toda a gênese egocêntrica e feia nossa. Nem estou falando das birras de crianças, e de adultos mais alteradinhos, vá lá, tudo bem. Mas daquilo que dói e incomoda. O meu vizinho de guarda sol escutava música sertaneja, mas sinceramente, por que colocá-la a todo volume, se na cadeira ao lado, poderiam haver mais pessoas que, como eu, não compartilhavam do seu gosto musical? Tantos outros, por que atiravam restos de comida na areia, se ao lado, logo ali, havia lixeiras? Por que não brindar os vendedores ambulantes, muitos africanos, com um sorriso mais amável, na negativa de um de seus produtos?
Bem, porque somos demasiadamente humanos, e a feiura concorre e contrasta com a beleza todo o tempo em nossa espécie. É como o esgoto que desemboca no mar azul, e essa junção forma o cenário completo.