Diante do atual momento de descrédito do Congresso Nacional e das instituições, não deixa de ser oportuno lembrar de algumas personalidades que ilustraram a nossa história política e cultural, fazendo disso um instrumento de uma necessária reflexão do que éramos e sentíamos e, daquilo que nos tornamos e vivemos no presente. Uma dessas personalidades é o artista plástico Cândido Portinari (1903-1962), considerado um dos maiores pintores do século 20.
Mas o que após meio século, a vida e as obras do pintor têm a ver com a nossa realidade? A relação está nas ações, intenções e no caráter das pessoas que viveram naquela época e, particularmente, de Portinari, cuja preocupação estava centrada nas injustiças sociais vividas pelo povo brasileiro e retratadas em grande parte em seus trabalhos.
Vítima de vários constrangimentos marcados por cerceamentos e perseguições políticas (destacando aqui o que seria a verdadeira situação de perseguido injustamente), o que mais o abateu foi o fato do governo americano proibir sua entrada no país por sua ligação com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), para participar da inauguração de seu painel Guerra e Paz (1953-1956), considerado a sua maior obra e na qual foi presenteada à sede da ONU em Nova York.
De origem simples e filho de imigrantes italianos, Portinari queria ter entrado para a política por entender que poderia contribuir no sentido de aplacar a miséria social e cultural existente no país naquele período e, que até hoje cresce de forma acentuada, atribuídas aos descasos de sucessivos governos corruptos e descompromissados com a população brasileira.
Tal determinação, fez com que ele mesmo fazendo parte de uma conjuntura política que foi discriminada e perseguida, se candidata-se a deputado federal em 1945 e a senador em 1947, situações em que aparecia como vencedor, e acabou não sendo eleito por uma pequena margem de votos, fato que, não deixou de ser levantada a possibilidade de fraude devido a sua vinculação com um partido de esquerda.
Só de imaginar a disposição de Portinari em querer ter participado da política, com seu caráter e talento, somando-se ao nível de qualidade dos representantes públicos que outrora existiram, comparados aos perfis desqualificados (indiciados e condenados por corrupção), que temos hoje, é possível perceber o quanto nosso sistema político decaiu e do qual, duvida-se que alcance uma posição digna outra vez. Esta semana marca os 55 anos da morte de Cândido Portinari.