O ano começou com uma injeção de ânimo para o ecossistema empreendedor. A compra da 99, aplicativo brasileiro de transporte de passageiros, pelo grupo chinês Didi representa a ascensão da primeira empresa nacional ao patamar de "unicórnio", o seleto grupo de startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.
Diferentemente de 60% das empresas que encerram as atividades em até cinco anos, a companhia conseguiu crescer e competir globalmente, mesmo com todas as dificuldades impostas pela burocracia brasileira. Como, certa vez, disse Steve Jobs, só entendemos um fato que acontece agora olhando para trás e vendo os pontos se conectando. A história da 99 e de seus fundadores seguiu pontos fundamentais, que se conectariam no futuro. Esse dia chegou e, mais do que o valor da venda em si, a sua trajetória de construção deve ser exaltada.
O primeiro ponto diz respeito à experiência do empreendedor. Paulo Veras, um dos fundadores da 99, foi pioneiro na vinda da internet para o Brasil na década de 1990. Já tinha criado outras cinco startups antes do primeiro unicórnio brasileiro. Aos 45 anos, a experiência acumulada em tentativas e erros deu-lhe mais embasamento para fundar a 99. Saibamos, portanto, que empreender em um campo que já se conhece aumenta significativamente as chances de sucesso.
Além disso, o tamanho que uma empresa poderá ter está diretamente conectado à relevância e à dimensão do problema que ela resolve. A 99 nasceu para resolver um problema de escala global, o da mobilidade. Começar atuando localmente, mas pensar globalmente desde o início, preparando a empresa em termos de definição de mercado e modelo de negócio, foi o segundo ponto bem fundamentado.
O terceiro ponto é referente às pessoas. Nas inúmeras entrevistas que Veras concedeu após a venda, o tópico relacionado ao time sempre ganha prioridade. Com a entrada do Uber no Brasil, o jogo dificultou, pois estavam enfrentando um concorrente agressivo e capitalizado. Ter profissionais excepcionais na 99, comprometidos com o sonho e o propósito da companhia, foi crucial para manter sólidas as bases do negócio.
Por fim, ética, resiliência e foco são outros pontos que complementam essa jornada. As lições da 99 parecem senso comum, mas a sua aplicação certamente não é – caso contrário, essa história não seria exceção. Que 2018 seja um ano de internalização de princípios fundamentais, mas, sobretudo, de execução. Eis aí o pulo do gato – ou melhor, do unicórnio.