O fomento ao empreendedorismo tornou-se um componente central do desenvolvimento econômico em cidades e países ao redor do mundo. Contraditoriamente, em um período em que o Rio Grande do Sul clama por uma retomada econômica, as duas cidades que concentram o maior PIB do Estado - Porto Alegre e Caxias do Sul - retrocederam nas condições para quem empreende. Isso foi o que mostrou a última edição do Índice de Cidades Empreendedoras, estudo produzido anualmente pela Endeavor.
De excesso de burocracia a resistências culturais, motivos não faltam para diagnosticar essa piora. Mas nenhuma justificativa é verdadeira, se analisada de forma isolada. Um ecossistema, por definição, é uma rede dinâmica e autorregulada por diversos atores. Uma política consistente e sustentável de desenvolvimento, portanto, só ocorrerá quando todas as partes forem endereçadas de forma conjunta e se reforçarem mutuamente.
Existem responsabilidades e motivações em todas as camadas que precisam ser ativadas. O setor público, que vê no fomento ao empreendedorismo a possibilidade de gerar empregos e aumentar a arrecadação de tributos, deve se preocupar em desburocratizar processos, simplificando a vida do empreendedor. Os bancos, ao flexibilizar os critérios de concessão de crédito, levando em consideração o grau de inovação dos projetos, ajudam no crescimento dos negócios – podendo tornar, também, a sua carteira mais rentável. As grandes corporações têm um papel importante no investimento e no desenvolvimento de novos negócios, gerando oportunidades ao mesmo tempo em que aprendem e se beneficiam com a velocidade das inovações geradas. As universidades podem sediar a geração de conhecimento e se retroalimentar com os feedbacks do mercado. Empreendedores, por sua vez, precisam multiplicar seu impacto, inspirando, mentorando e investindo em novos empreendedores.
Se queremos reconstruir o Estado valendo-nos do empreendedorismo como motor do desenvolvimento, precisamos discutir como intervir de forma holística, atacando o ecossistema como um todo. Decisores políticos, sociedade civil, líderes corporativos e os próprios empreendedores devem se articular em prol da construção de um ambiente mais favorável ao nascimento e crescimento de negócios. Usemos o bairrismo a nosso favor e atuemos em rede. Só assim seremos capazes de acelerar a formação de um ecossistema empreendedor e, juntos, construir o Estado que queremos e merecemos.