A Fundação de Economia e Estatística do RS divulgou uma recente pesquisa que mostra que o desemprego entre a população negra é 60% maior do que entre os brancos na região metropolitana de Porto Alegre. Os dados apresentados por essa e por qualquer outra pesquisa socioeconômica que apresente um recorte étnico-racial comprova aquilo que todos deveriam já saber: as barreiras físicas e simbólicas impostas pelo racismo impedem o acesso aos direitos básicos. Os dados dessas pesquisas, no entanto, não são suficientes para que a maioria da população abandone a certeza de que vivemos em uma democracia racial.
O 20 de Novembro tornou-se o principal marco político para reivindicação do direito à cidadania
O recente caso de racismo envolvendo o jornalista William Waack e os argumentos utilizados em sua defesa por diferentes autoridades demonstram isto. Apesar de parecer à primeira vista, não se trata e não pode ser tratado como um caso isolado, pois visibiliza o racialismo que rege as relações sociais privadas e públicas. Não há nada de novo. São esses discursos e representação que dificultam, por exemplo, o acesso dos negros ao mercado de trabalho.
Essas permanências do sistema escravista afetam as diferentes esferas de cidadania. É sobre essa discussão que buscam chamar a atenção, durante o mês de novembro, todas as manifestações em torno da consciência negra. Iniciada como um projeto de substituição da narrativa de uma liberdade concedida em 13 de maio por uma de liberdade conquistada, o 20 de Novembro tornou-se o principal marco político para reivindicação do direito à cidadania plena, mantendo o direito à negritude.
A negativação dessas ações garante há séculos os privilégios da branquitude. Também é usada para justificar a condição de marginalização, igualmente no mundo do trabalho, da maioria negra. Essa negação está na base do mito da democracia racial. Desconstruir esse discurso tem sido a principal e incômoda coisa de preto das últimas décadas. Afinal, como disse Florestan Fernandes, construir uma verdadeira democracia no Brasil é coisa de preto. Para isso, torna-se necessário o enfrentamento do racismo por toda a sociedade e não somente em novembro.