Quando o Brasil rachou ao meio entre os contrários e os favoráveis ao impeachment, quase todos escolheram o seu lado por simpatia ou antipatia pela ex-presidente Dilma Rousseff. Os que eram contrários ao impeachment em razão da ruptura democrática que ele representaria não formariam um time de futsal.
A verdade é que o brasileiro não é nem nunca foi um grande fã da democracia. Se está ruim, quer trocar imediatamente. Se está bom, quer pra sempre. Poucos veem os benefícios a longo prazo do respeito às regras do jogo. Tratam a política como um time do Brasileirão cujo treinador segue (só) enquanto ganha.
Se há algo de bom no governo Michel Temer, é estar sendo didático dos malefícios dessa virada de mesa. Da quantidade de males que pode sair dessa caixa de Pandora aberta por Eduardo Cunha. Na quarta-feira, a denúncia contra o presidente mal foi discutida. O que estava em jogo era o preço que o Planalto estava disposto a pagar aos parlamentares para salvar a cabeça do Michel.
Em determinado momento, me peguei – com asco de mim mesmo, é verdade – torcendo por Temer. Quando a votação se iniciou com Paulo Maluf abrindo voto em prol do arquivamento da denúncia, quase vibrei. Porque quanto mais impopular o presidente se torna, mais ele entrega para se safar. E se ao menos os parlamentares estivessem pensando no país, mas que nada. Congressistas prestam contas primordialmente aos seus financiadores de campanha e partidos carguistas. Dane-se o eleitor.
O custo político de ir ao microfone defender o indefensável Temer já nos custou, além de R$ 32,1 bilhões que farão faltam em estradas, hospitais e salas de aula, o relaxamento da legislação sobre trabalho escravo, exploração da Amazônia, terceirização das relações trabalhistas e a promessa de um marco regulatório que deve encarecer planos de saúde na velhice.
O fato de a nova procuradora-geral, Raquel Dodge, parecer menos afeita a flechas do que seu antecessor é quase reconfortante. Porque, se Temer tiver de se defender de outra denúncia, sabe Deus o que mais do nosso futuro ele vai comprometer.
Portanto, já não faço coro de "Fora, Temer".
Ele me venceu pelo cansaço. Minha torcida é para que outubro de 2018 chegue de uma vez e este governo assuma seu lugar no rodapé inglório da História. Já a lição que ele nos deixa merece um capítulo especial: com impeachment não se brinca.
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