Imagine que você se confundiu no estacionamento. Errou de carro, entrou no Delorean de De Volta para o Futuro e foi parar às 8h do nem tão distante 26 de outubro de 2014, dia de votar no segundo turno para presidente da República. Suas opções são, evidentemente, as mesmas: Dilma Rousseff ou Aécio Neves, cada qual representando nove partidos, alguns que você nem sabia que existiam. Na boa, em quem você votaria?
Por mais que você simpatize com Dilma, você viu o futuro. Reelegê-la, hoje sabemos, seria escolher uma coligação cuja pátina eleitoral milionária bancada pela JBS escondia rachaduras irreparáveis. Em vez de A Força do Povo, a coligação poderia se chamar Primeiro a Gente Ganha, Depois a Gente Vê. O que de fato aconteceu, mas não como o PT previa. Terminou com o anfitrião expulso da festa. E, com o PMDB nas picapes, o baile é esse aí: Michel Temer, um governante popular como o Miller Bolaños, falando em "retomada" enquanto a economia segue próxima do coma, a gasolina chega a quatro pilas, universidades federais escolhem quais boletos poderão pagar, a Amazônia é assediada e deputados recebem benesses para impedir que o presidente seja investigado.
Ok, ninguém (do lado de fora do Congresso, ao menos) está feliz com o presente. Então, quem sabe mudamos o passado. Obedecemos àquela camiseta popular em 2016: "A culpa não é minha, eu votei no Aécio". Apertamos lá os botões para eleger o neto do Tancredo. Só que também assistimos, estarrecidos, ao futuro de Aécio Neves: escutas em que o parlamentar pede à mesma JBS dinheiro para bancar até a sua defesa no processo da Lava-Jato. Só mesmo em um país à parte como Brasília um político gravado envolvendo irmã e primo em recebimento de grana fria sequer perde o mandato.
Então, qual era a alternativa correta? Pois é... Problema é que isso não é obra do acaso, mas um mecanismo de defesa do sistema político. Ele é pródigo em dar ao eleitor apenas alternativas que, no final das contas, deem na mesma. Goste ou não dela, observe o que aconteceu com a candidata Marina Silva, catapultada pesquisas acima com a morte de Eduardo Campos. Contra nove partidos de um lado e nove do outro, demorou dias para que comerciais de TV e programas eleitorais a pulverizassem. Em vez de partidos em volta de um projeto de governo, coligações se transformaram em uniões do status quo contra alternativas de poder.
Talvez jamais tenhamos um caso tão bizarro quanto esse, em que o vice de uma chapa terminou presidente e convidou o vice da outra (Aloysio Nunes) para o seu ministério. Mas não é preciso viajar para o futuro para saber que o sistema continuará se protegendo. Agora mesmo, caminha pela Câmara um projeto de reforma política cujo objetivo é assegurar dinheiro público e mecanismos para que os mesmos deputados se eternizem no Congresso. E, quanto mais políticos se esforçam para se manter os mesmos, mais evidente fica que precisamos mudá-los.