* Médico
A medicina tem apresentado avanços importantes nos últimos anos. Conhecimento do mapa genético e do microambiente biológico tem proporcionado a possibilidade de diagnósticos mais precisos, tratamentos mais efetivos, com efeitos colaterais mais controlados.
Há poucos dias, foi aprovado um medicamento inovador para um câncer hematológico, a leucemia linfocítica aguda refratária, que utiliza um método totalmente personalizado e associa a imunoterapia à engenharia genética. Ao contrário dos remédios tradicionais, cada dose é customizada para o paciente com uma logística complexa. É feito em dose única para uma doença em situação na qual não existe opção adequada disponível e as taxas de sucesso ultrapassaram 80%. Genial. A má notícia, entretanto, é que custa R$ 1,5 milhão.
Não é o único caso de novos medicamentos com custo elevadíssimo. A maioria, inclusive, não traz resultados tão eloquentes. É evidente que esse "balde de água fria" não pode nos impedir de pensar e articular soluções. A decisão de incorporação irrestrita seria irresponsável, uma vez que não podemos esgotar o recurso antes de chegar o próximo paciente.
Esse contexto abre espaço para importante reflexão que demanda considerações de toda a sociedade, que vão desde precificação realista, tributos sensatos, definição de prioridades, fluxos de acesso transparentes e modelo de desincorporação de tecnologias com ganhos marginais ou inexistentes. Precisamos urgentemente de uma política de saúde preventiva e efetiva, agregada ao acesso a tratamentos de ponta. Ver a judicialização como saída é um risco grande de aumentar a iniquidade, uma vez que privilegia quem sabe demandar e não corrige a raiz do problema.
Da mesma forma, o debate parece inócuo se não pautar a erradicação dos desmandos e desvios que assolam a saúde em nosso país. Os avanços, portanto, devem vir acompanhados de ampla discussão, que só será produtiva se amparada em educação e respeito pela vida. De outra forma, toda conquista médica seguirá sendo ficção científica.