O governo brasileiro tem feito um esforço político considerável para liberar a exploração de recursos naturais (madeira e minério) em algumas áreas da Amazônia. Em uma primeira análise, parece que essa medida pode beneficiar também a produção agropecuária, visto que a área desmatada ou degradada é mais facilmente aproveitada pela pecuária e pela soja.
Temos a tendência de enxergar esse tipo de debate como uma escolha entre economia e meio ambiente. Entre PIB e conservação. Isso não é verdade. Desmatar a Amazônia é péssimo para a economia.
Fica fácil enxergar essa falácia quando paramos para pensar que a agropecuária brasileira é altamente dependente da chuva gerada na Amazônia. Quando reduzimos a área de floresta, deslocamos o recurso hídrico em direção ao oceano, para longe dos campos produtivos. E o pior é que essa relação não é linear. Ou seja, não precisamos destruir toda a floresta para acabar com a precipitação sobre as regiões produtoras de alimentos. Basta desmatar uma parcela dela para perdermos drasticamente nossa produtividade.
Outro erro é pensar que commodities são o melhor que a floresta pode fornecer. Quando apostamos em madeira, minério, gado e soja, reduzimos o potencial de encontrar preciosidades a serem usadas pelas indústrias química, farmacêutica, alimentícia, entre outras. A riqueza da biodiversidade está em um complexo emaranhado entre espécies. Quando uma delas é extinta, perdemos todas as relações que essa espécie tinha com outras, reduzindo a chance de encontrar um produto valioso.
Perdemos também a chance de apostar em formas mais sustentáveis de manejo combinado entre extrativismo e agricultura, que somente são possíveis quando a floresta ainda está de pé.
Estamos próximos de um ponto a partir do qual a degradação será irreversível. Se o atingirmos, todo esforço posterior será inútil. Infelizmente, é esse o impacto que o governo parece estar buscando com as políticas infundadas que tem proposto.