* Professor e escritor
Nelson Mandela (1918-2013) deixou um legado impossível de calcular quando se pensa na defesa dos direitos civis das pessoas. Mandela teve vários nomes ou apelidos ao longo de sua vida. Porém, do que ele mais gostava era Madiba. Este apelido era como os sul-africanos chamavam-no para demonstrar o imenso carinho pela figura carismática, amorosa e serena de seu maior líder. Madiba foi um grande orador. Suas frases são muito citadas e servem de ponto de partida para muitas reflexões. Uma delas penso que é adequada para o momento de acirramento dos ódios e preconceitos de toda ordem que assolam diversos países. Em entrevista para a rádio BBC de Londres (1993), Madiba disse: "A arma mais poderosa não é a violência, mas conversar com as pessoas".
Os recentes confrontos envolvendo defensores da famigerada "supremacia branca" e defensores da diversidade, no Estado da Virgínia, nos Estados Unidos são, nada mais nada menos que um exemplo das diferentes formas de intolerância e do ódio racial que vivem "escondidos" em muitos corações e mentes pelo mundo afora. E não se pense que esse tipo de manifestação ocorre apenas longe de nós. Engano. O Brasil é um país aonde pessoas são espancadas na rua simplesmente pelo fato de ferir os conceitos arcaicos dos homofóbicos de plantão. Os povos indígenas ainda são vistos como gente sem cultura e que não quer trabalhar. Foi necessária uma lei federal para proibir adultos de espancarem crianças (Lei da Palmada), mesmo que essas sejam seus filhos! Foi preciso uma lei (Lei Maria da Penha), para criminalizar o espancamento e, por vezes, a morte de mulheres por aqueles que dizem que as amam! Não esqueçamos que fazem apenas dois anos que a legislação trabalhista reconheceu, oficialmente, que os empregados domésticos tinham direito a Carteira de Trabalho assinada e jornada de trabalho regulamentada.
Lembro-me de colegas meus, professores(as) universitários(as) – alguns que se dizem de esquerda – muito incomodados com o fato de terem de pagar o salário legal e ainda ter de "arcar com os direitos trabalhistas" de seus empregados domésticos. Curiosamente, os mesmos direitos que eles e elas, tão aguerridamente, defendem para si próprios em seus sindicatos e partidos políticos. Não são poucas as pessoas que sentem saudade dos tempos da ditadura militar. Não são raras as manifestações, na universidade, de jovens estudantes favoráveis à pena de morte; ao encarceramento cada vez maior de pessoas; ao "endurecimento" das leis; à diminuição da maioridade penal etc. Vale lembrar que esses jovens que chegam às universidades são uma pequena parcela da população brasileira. Com exceções, fazem parte da chamada elite do país. Um país que tem uma das elites mais insensíveis do planeta quando o assunto é a sensibilização com o sofrimento e as injustiças sociais. Por fim, quero registrar algo que talvez ajude a entendermos tanta insensibilidade: o Brasil foi o último país do mundo ocidental a proibir a escravidão de pessoas. Nesta guerra da intolerância e de ódio, como em qualquer outra guerra, não existirão vencedores. Guerra vencida, penso que é aquela que conseguirmos evitar.