* Deputada estadual, líder da bancada PC do B na Assembleia Legislativa do RS
Em Porto Alegre, o fechamento da sede do Grupo de Apoio à Prevenção da Aids (Gapa/RS) foi a mais recente prova do avanço de agendas conservadoras no âmbito político que afetam diretamente a vida de milhares de pessoas. A instituição atendia portadores da doença há duas décadas e desenvolvia campanhas de prevenção. Porto Alegre destaca-se com a maior taxa de detecção do vírus no país. São 74 casos para cada 100 mil habitantes.
O fechamento do Gapa acontece na capital brasileira com maior aumento de casos de HIV no Brasil (cinco vezes mais do que a média nacional). O RS ocupa o 1º lugar no ranking dos Estados com a maior taxa de detecção de HIV em gestantes desde 2000, atingindo seu ápice em 2015 com taxa de detecção de 10,1 casos para cada mil nascidos vivos. A casa em que a ONG estava instalada foi interditada pela justiça depois que a Secretaria Estadual de Saúde não pagava o aluguel há nove anos. Há meses a organização não atendia mais o público por falta de condições do prédio. Isso significa que portadores do vírus enfrentam maior dificuldade em conseguir assistência, por inércia do poder público.
É fato que, a partir dos anos 2000, a epidemia perdeu espaço nas principais discussões sociais. Veio à tona mais recentemente em razão de uma super série de TV. Com o "esquecimento" da doença por parte da mídia, veio a falta comprometimento de gestores públicos com a questão. Em 2013, o governo chegou a sinalizar a reforma de um prédio público na intenção de transformá-lo em um centro de referência Aids, com espaço para o Gapa e outras ONGs que trabalham na mesma área de atuação. Na prática, isso até agora não aconteceu.
O que fez Cuba para ser o único país do mundo a erradicar a transmissão de mãe para filho do HIV e da sífilis? Promoveu campanhas incentivando mudanças de comportamento e de percepção do risco das mulheres grávidas que vivem com o vírus. Isso sem contar com a assistência médica básica garantida dos cubanos, através de um eficiente programa de saúde da família. Ou seja, iniciativas que estão ao nosso alcance, basta boa vontade de quem pode, de fato, mudar as coisas.